sábado, 20 de dezembro de 2008

TV Bahia no país das maravilhas

Às cinco da manhã de hoje, mais uma chacina se somou aos tristes índices da violência em Salvador. O sexto crime deste tipo aconteceu em Brotas, e deixou quatro mortos e um ferido. Homens entraram em uma casa, reviraram o local e, depois, desferiram tiros na cabeça das vítimas que estavam lá. Ao que tudo indica, o crime foi causado por questões ligadas ao tráfico de drogas na região, só pra variar. Este ano, 25 pessoas morreram somente em chacinas em Salvador.

Mas, apesar de todos estes dados e cisrcunstâncias, uma parte da mídia baiana não deu a devida atenção ao fato. A TV Bahia, como sempre tem feito, apesar das caras e bocas de alguns apresentadores, esteve no país das maravilhas: em um sábado de sol que antecede o início do verão, abriu o Bahia Meio Dia com um vivo na praia, falando sobre verão, sol, mar e otite. Depois, mais matérias leves. A chacina só veio no terceiro bloco -- e como uma nota coberta. No BATV, também cobertura ínfima quando se havia tempo hábil de se fazer um vt.

Era a chance que a TV tinha de fazer uma matéria criticando a (in)segurança pública no estado, trazer números à tona, todos angustiantes. A violência este ano está bem maior que no ano passado, uma prova está na morte de policiais (36 até agora). Mas, seguindo uma tendência da Rede Globo, agravada pela direção local, de não se falar tanto do grotesco, optou-se por reduzir o fato, quse que dá-lo no jornal por obrigação.

O VT feito pela TV Band Bahia sobre a chacina abriu o jornal. O de rede, o Jornal da Band. A emissora fez um "Band Cidade Especial" com o governador Jaques Wagner. Durou o jornal todo... o que fica massante pra audiência, ao meu ver. Podia-se optar pelo equilíbrio, com ao menos uma nota ou vt do dia em cada bloco. Mas quem ligou a tv no 7 não pôde sequer ver uma nota do que aconteceu no dia. Ignora-se o factual; será que aqules quase 20 minutos de produção com o governador eram mesmo necessários?

domingo, 14 de dezembro de 2008

Recomendo: Blogs do Além

Estou devendo um "recomendo" que quero postar aqui há tempos. Quem lê a Carta Capital com frequência, ou folheou alguma nos últimos meses, já conheceu a coluna Blogs do Além, que estreou no número 500 da revista. Nela, o publicitário Vitor Knijnik, tenta imaginar como seriam as páginas pessoais de grandes nomes do passado.

A idéia é simplesmente genial, muito boa mesmo. Toda semana você tem um texto leve, de um personagem antigo mas com conteúdo bem contemporâneo, e sempre com humor. Entretenimento inteligente, por isso mando a dica. No site você tem acesso a todos os blogs que Vitor fez até hoje, com personalidades como Leonardo da Vinci, Che Guevara, Tim Maia, Machado de Assis e Pedro Álvares Cabral, o mais recente até a publicação deste post. Ou você pode comprar a revista, que também costuma valer a pena pelo conjunto da obra...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Divagações sobre a mídia

O texto abaixo é de autoria de Cláudio Lembo, advogado e professor universitário que foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador. As divagações foram publicadas na Folha de S. Paulo do dia 2 de dezembro. No conteúdo, verdades óbvias para uns e para outros nem tanto, outras já renovadas. Mas, ainda assim, verdades. Aqui, apenas uma ressalva: trocaria o termo "formadores da opinião pública" por "servidores da opinião pública". Acho que dizer que nós a formamos é nos colocar num patamar talvez mais alto do que devemos, a depender do sentido apreendido do termo.

Todas as profissões produzem desgastes emocionais. Os níveis podem ser diversos. Mas, a inevitabilidade do cansaço pelo diuturno dos atos profissionais é uma constante.

A previsão bíblica contém carga absoluta de certeza, quando aponta para o suor advindo do trabalho. Este não é apenas físico. Acima de tudo, ele se apresenta como psicológico.

Entre as profissões, como uma das mais desgastantes, coloca-se o jornalismo. A busca diária de notícias ou a elaboração cotidiana de opinião leva o profissional à excessiva sensibilidade.

Não pode errar. Deve sempre oferecer seu produto com clareza, perfeição e conteúdo veraz. O jornalista, em sua intermediação entre as fontes e a sociedade, torna-se fundamental agente de formação da opinião pública.

Sem jornalismo deixa de existir a possibilidade de a sociedade conhecer os atos de seus governantes e assim avaliá-los para decidir nos momentos eleitorais.

Sem jornalismo é inviável a possibilidade da existência de uma efetiva democracia. Jornalismo e democracia são partes inseparáveis de uma mesma visão do mundo: a democrática.

Esta cosmo visão possui como principal elemento a garantia da plena liberdade. Só a liberdade permite um jornalismo isento. A liberdade é, pois, a condição indispensável para uma verdadeira democracia.

As ponderações contêm verdades axiomáticas. Ou, em linguagem mais direta, verdades acacianas. Apontam o óbvio. No entanto, coisas conhecidas merecem sempre ser lembradas.

Particularmente, em momento em que os meios de comunicação se ampliam - especialmente pelo surgimento da internet - e formam-se conglomerados empresariais na área da informação.

As exigências econômicas levaram ao aparecimento das grandes grupos de mídia. Já não se cobre a aldeia natal. Agora, a cobertura estende-se à aldeia planetária. Os acontecimentos, em toda a parte, merecem cobertura.

Surge o primeiro risco. A concentração dos meios de comunicação já não permite pensamentos plurais. Ingressa-se no perigoso cenário do pensamento único.

Este pensamento único não possui os mesmos elementos do existente nos regimes totalitários. Nestes últimos desejava-se endeusar o líder. Transformar mero mortal em deus vivo.

Agora, deforma a toda a realidade. Apresenta apenas uma única versão do acontecido. A mais pragmática e de acordo com as vontades dos núcleos centrais do poder político ou econômico.

Aqui um paradoxismo. Chocam-se, por vezes, a opinião pública com as fontes jornalísticas. Ou seja, os formadores da opinião pública - os jornalistas - ficam em posição antagônica aos destinatários de suas mensagens.

A constatação não se suporta em meras reflexões subjetivas. É também obtida em determinadas amostras de opinião colhidas junto à sociedade. As respostas levam a perplexidade.

Em determinadas situações, ocorre relação de amor e ódio entre a sociedade e os formadores de sua opinião. Uma rejeição racionalmente inexplicável.

Apresenta-se como episódio freudiano. O destinatário sente fragilidade em sua condição de destinatário da informação. Considera-se diminuído perante quem parece tudo saber.

O jornal La Repubblica publicou em seu site o resultado de pesquisa de opinião realizada na Itália. Surpreendente o resultado. Os números geram inúmeras reflexões e maior número de ponderações.

A pesquisa foi produzida pela Universidade Estatal de Milão. Aponta: 68% dos italianos consideram seus jornalistas mentirosos. Outros 60% acham-nos incompetentes e para 52% dos mesmos italianos os seus jornalistas não são independentes.

Prosseguem os números colhidos: 64% dos entrevistados consideram os jornalistas italianos aéticos. Ainda 52% acham que os seus jornalistas não têm respeito pelos outros.

Paradoxalmente, há grande desejo de mais informações por parte da sociedade italiana, o que levará ao maior crescimento dos meios de comunicação não tradicionais, segundo o mesmo levantamento de opinião.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Jogo dos incontáveis erros

Coloco aqui uma matéria passada por uma colega minha, Juliana, por e-mail. O texto é um reflexo do que ainda se encontra na imprensa baiana -- mais precisamente, no nosso pior jornal local, o Tribuna da Bahia. Deus me livre de saber quem é a autora disso... Não estranhe se você ficar espantado. Veja se você consegue achar todos os erros, que não são poucos. É um ótimo passatempo. :-p

"Policial executado a tiros próximo de sua casa
Por Silvana Blesa
Sobe para 31 o número de policiais militares, vítima da violência que assusta a Capital baiana. Na noite de anteontem, o sargento da reserva Emídio Bispo de Jesus, de 57 anos, voltava para sua residência, após sair de uma faculdade onde cursava direito. O crime ocorreu a poucos metros da residência da vítima no bairro de Fazenda Coutos I, quando quatro homens ainda não identificados abordaram o sargento e além de assaltá-lo foi executado com um tiro nas axilas. Os acusados levaram do sargento, um celular, carteira com pertences, paletó que usava e uma maleta com os livros do curso. Em estado grave, o sargento ainda foi socorrido para o Hospital João Batista Caribe, mas morreu horas depois do atendimento.
Ontem pela manhã, os familiares do policial, acompanhado de amigos estavam no Instituto Médico Legal para liberar o corpo da vítima. Muito abalada, à esposa do sargento, identificada como Nadjara não teve condições de falar com a imprensa. Já o sobrinho do PM, Edízio Assis, mesmo com dificuldade devido ao choque da notícia do assassinato, fez questão de alertar que seu tio era um líder comunitário e lutava muito pelos direitos dos moradores do bairro. “Ele era muito querido na comunidade. Não tinham inimigos e estava fora da polícia. Ele pensava em seguir carreira como delegado, já que estava cursando faculdade de direito. Estamos todos abalados e esperamos que os poderes públicos tomem providências prendendo esses marginais”, disse o sobrinho do sargento.
Edízio ainda fez um desabafo em conseqüência da morte de seu tio: Se os próprios policiais estão sendo vítimas dessa violência e como fica o cidadão comum? A quem devemos apelar, se os que deveriam passar segurança para as pessoas estão sendo brutalmente assassinados? Só resta agora para a família a esperança que as autoridades não deixem em que esse crime caia no esquecimento, mas sim prenda os culpados.
O sargento estava na reserva da polícia, ele tinha mais de 20 anos de serviço e fazia trabalhos voltados para o bairro. Na noite do crime, Emídio tinha saído da faculdade onde estudava direito e seguia para sua residência localizada no Conjunto Recanto da Lagoa, bairro de Fazenda Coutos, quando foi abordado por homens armados. Por está bem vestido e carregando uma maleta, a polícia não descarta a possibilidade de assalto e o sargento reagiu a abordagem dos criminosos que efetuou quatro tiros, mas apenas um acabou acertando a axilas da vítima.
Outro fator que a polícia investiga é se os acusados perceberam que Emídio estava armado e deduziram ser policial e acabou o matando. Os agentes da Força Tarefa da Delegacia de Homicídio, bairro dos Barris, criada com exclusividade para investigar crimes de policiais, estão buscando informações para chegar aos assassinos. Mas as investigações são sigilosas e os agentes não podem passar nenhuma informação para a imprensa até que os criminosos sejam presos. O sargento Emídio, foi enterrado na tarde de ontem no Cemitério de Quinta dos Lázaros. Ele era casado e deixou um filho."

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Recomendo: série Violência no JN

Esta semana o Jornal Nacional apresenta a série Violência, que trata de mostrar porque, no nosso país, isto virou algo tão rotineiro, além de apresentar abordagens mais analíticas e profundas sobre o tema. No episódio de hoje, uma triste estatística: no Brasil, morre-se mais da violência do que no Iraque, da Guerra. A matéria também fala mais, e bem, sobre a violência no universo infantil.


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Olhos tortos

Há meses a fio ouvimos a mesma espécie de ladainha sobre a crise financeira global. Bum! Como lava de um vulcão, o resultado de décadas de capitalismo especulativo se derramaram em falências, quebras e fechamento de unidades financeiras diversas. E a erupção não tem fim.

O que começou nos Estados Unidos se converteu em um estonteante efeito dominó, que percorreu boa parte dos países do mundo causando diversas consequências para as suas economias. Todos eles tiveram um sintoma em comum: o estado de alerta máximo. Mas, equanto nos EUA as bolsas despencaram feito num tobogam; na Alemanha e em outros países europeus pacotes urgentes de auxílio foram anunciados, no Brasil várias empresas anunciaram férias coletivas de seus fucionários e bancos pediram ajuda. Um pouco de tudo em todos, uns sentindo menos, outros, mais.

Um e-mail que recebi me fez refletir sobre a cobertura acerca da quebradeira monetária mundial que, pelo menos aqui no Brasil, que ando assistindo, a imprensa está fazendo. Do ponto de vista econômico, nada mal. Os grandes jornais explicaram a origem do problema e estão, diariamente e em boa quantidade, se cuidando de reportar os efeitos em cada país -- de anúncios de falências de instituições a reduções nas taxas de juros e valoriza-desvaloriza do dólar. (Bons tempos em que dava pra viajar pra fora, com o dólar a R$1,50...).

Mas, como em boa parte de sua rotina, os grandes veículos esqueceram seu papel questionador. Jornalistas não simplesmente reportam e repetem os fatos; somos gatekeepers da realidade, e ela não pode simplesmente resvalar em nós -- sem nenhuma ofensa aos defensores da imparcialidade; a objetividade é um mito, e se trata aqui apenas de dizer que não podemos ser autistas diante dos fatos: somos servidores da esfera pública.

Ao se olvidar de sua função social, informações noticiadas como a de que o Japão vai oferecer sua reserva de de um trilhão de dólares para países em bancarrota passam batidas. Um trilhão de dólares, para ajudar a instituições e pessoas já com bastante dinheiro, e que quebram por abusar do mercado; por basearem sua situação financeira em especulações, literalmente.

E os jornalistas parecem comemorar a cada notícia de salvação. Agora, com que frequência ouvimos as mesmas nações se disporem a oferecer suas reservas para ao menos tentar diminuir o problema da miséria no mundo? Milhões de pessoas morrem todos os anos desta coisa tão primata e tão ignorada que é a fome. Fotos de crianças africanas moribundas percorreram o mundo, mas só o que fizeram foi ganhar prêmios de fotografias pela "beleza" que têm. Beleza... tsc. Todos os anos o Fórum Social Mundial é sediado em alguma parte do planeta, mas, por mais diversa que seja a geografia, todos os governantes têm a mesma postura: dar esmolas, se ao menos o fazem.

Não menosprezo o papel da economia; ela existe desde o princípio dos tempos, mesmo que nas mais rudimentares formas. Ela sustenta um país. Mas de que adianta tanto dinheiro, se mal empregado? A resposta temos aí, há meses, nos jornais.

Você já parou pra pensar em o que um trilhão de dólares poderia fazer pelas famílias dizimadas pela fome, Aids, doenças tropicais e pela guerra? Ou melhor: você consegue imaginar o que esta disposição para salvar a economia faria se fosse empregada no plano social? Infelizmente, nos dias de hoje, só o que podemos fazer é imaginar.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O troco

Ministério Público move ação contra Rede TV! pelo caso Eloá
Emissora transmitiu uma entrevista ao vivo com Lindemberg enquanto ele mantinha a ex-namorada refém

Solange Spigliatti, do estadao.com.br

SÃO PAULO - O Ministério Público Federal de São Paulo entrou com uma ação nesta segunda-feira, 1º, contra a Rede TV! por uma entrevista feita com a adolescente Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, e Lindemberg Alves, de 22 anos, e quer uma indenização de R$ 1,5 milhão para a sociedade por utilizar imagem da menor sem autorização judicial e transformar em espetáculo midiático o seqüestro da jovem. Eloá acabou assassinada pelo ex-namorado. Questionada, a emissora afirmou que ainda não foi informada da ação, mas que considera o ato uma "forma velada de censura".

A ação civil pública é por danos morais coletivos de R$ 1,5 milhão, equivalente a 1% do faturamento bruto anual da emissora, ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos. Durante o seqüestro, a emissora entrevistou a refém e o seqüestrador. A emissora também afirmou que assim que for notificada da ação vai se manifestar. No entanto, declarou que sempre vai defendar "a liberdade de expressão e o não cerceamento do jornalismo de informar os telespectadores".

Em entrevista ao estadao.com.br, a procuradora Adriana Fernandes, autora do pedido, afirmou que a liberdade de expressão não é absoluta e que, neste caso, deveria ter sido respeitado o fato de uma menor estar envolvida. "Na entrevista a repórter se colocou como intermediadora, colocando em risco de vida a menor e outras pessoas envolvidas na ação", disse.

O programa A Tarde é Sua, com apresentação de Sônia Abrão, exibiu duas entrevistas, uma ao vivo e outra gravada, com Eloá e Lindemberg, interferindo na atividade policial em curso e colocando a vida da adolescente e dos envolvidos na operação em risco, segundo MPF.

A procuradora também afirmou que, a partir do pedido, cabe ao poder Judiciário decidir se houve ou não abuso. Além disso, Adriana pediu à União a intimação de representantes da emissora, já que os serviços de rádio e televisão são concessões públicas.

Forma velada de censura? Não, não é velada. A Rede TV! está sendo explicitadamente censurada por ter feito algo extremamente indevido e desrespeitoso, tanto para com os "entrevistados", quanto para a família dos envolvidos e os telespectadores. A censura, aqui, atinge um outro nível. Paremos de remeter aos tempos da ditadura, como se só tivéssemos passado e nunca presente nem futuro. Não somos deuses. Às vezes precisamos, sim, de alguém que nos puxe pela gola da camisa.

Veja também:
Uma tragédia midiatizada
Uma tragédia midiatizada II
Alfinetada

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Da variedade nasce o sórdido

A mídia impressa da Bahia, provinciana que (ainda) é, configura-se como um cenário que poderia ser muito mais rico para estudo. Isso se não fosse formada por apenas três jornais, dos quais um tem uma liderança considerável de vendagens; o segundo é filho recém-modernizado de uma família de políticos e outro é uma piada pronta em diversos aspectos, principalmente no quesito “o que falta para que estas páginas se tornem um bom jornal”.

Não sabia eu, mas a capital Rio de Janeiro é um terreno bem mais fértil. Também, o mercado da cidade tem o maior número de leitores, 20% da população segundo o IBGE. Sete jornais circulam diariamente nas bancas da cidade: Jornal do Brasil, O Globo, Extra, O Dia, O Povo, Expresso e Meia Hora. A maior variedade de publicações permite que sejam criados nichos de públicos, (Quality Paper, classes A/B; Populares, B/C e Compactos, C/D). Isto torna a análise muito mais interessante. Andando por uma rua do bairro do Flamengo, na Zona Sul, deparei-me com uma capa de jornal bem peculiar.

Minha primeira reação foi de espanto (“O que é isso aqui, moço??”, disse ao dono da banca); depois, riso. O jornalismo popularesco, que aqui na Bahia ganha forma em determinados programas de televisão como Se Liga Bocão e Que Venha o Povo, ganha forma também em mídia impressa no Rio. Era pra me espantar. Tal produto nunca vi por aqui – pelo menos não no meu tempo, vale ressaltar. Tinha que levar aquele jornal pra casa, era irresistível folheá-lo e falar a vocês do que vi... Metros depois, numa outra banca, descobri o concorrente do Expresso, o Meia Hora. Apresento-o:

Que capas são estas? Uma bagunça. Mas que tudo diz sobre o produto. A diagramação, uma primeira página bem poluída, cheia de informações. Excesso? Depende do referencial. Para mim, que estou acostumada ao visual clean dos jornais da terrinha, é tudo um verdadeiro caruru. Se bem que tá mais pra feijoada carioca. O segmento C/D quer isso, muita coisa pra digerir, muita cor e manchetes para chamarem a atenção.

E para bom entendedor, poucas palavras bastam. Os signos lingüísticos das capas do Expresso e do Meia Hora são riquíssimos. Em texto e imagem, a tríade sangue, sexo e futebol. Tudo em uma linguagem que chegue em cheio no público-alvo: falando como ele fala. Gírias como “poliçada” e “caô”, num popularesco carioquês, além de expressões poucos usuais em estilos menos populares de jornalismo, como “sacode”, “coitada” e “foi em cana”.

Metáfora Seletiva
Quando o Correio* decidiu se comparar a outros jornais para explicar seu novo formato (berliner e com notícias curtas), adotado em agosto deste ano, citou grandes jornais da Europa. Decisão claramente estratégica, for sure. Esqueceu-se que exemplos bem menos notórios e daqui do país já tinham como política editorial notícias mais rápidas e resumidas e o uso constante de notas e muitas imagens. Apesar de estarem em tablóide, o Expresso e o Meia Hora têm a mesma regra. Em uma pagina, duas, três ou até mais notícias diferentes – não dá pra ser mais por causa da espantosa quantidade de anúncios, que sustentam a venda dos exemplares a 50 centavos cada. Boxes trazem tanto pequenos adendos às notícias principais quanto outros fatos da mesma editoria. Os textos não passam de quatro parágrafos e quando o fazem, é porque todos estão muito curtos.

Marinho é o Rei
Em terra cariocas, não tem jeito: as publicações Globo dominam o mercado. No segmento Quality Paper (A/B), o jornal O Globo dá uma surra o Jornal do Brasil por um placar humilhante de 1,7 milhão de leitores versus 304 mil. No grupo dos Populares, o Extra (3,2 mi) bate o O Dia (1,9 mi). Não consegui números que comparem o Expresso ao Meia Hora; para quem não percebeu pela capa, o global é o primeiro. São duas citações de produtos da Rede Globo; a Globeleza e o Domingão do Faustão. Na página 2, três quadros dão um ar de versatilidade ao jornal, chamando o leitor para o conteúdo de outras mídias: “Deu na Rádio Globo”, “Deu no Jornal Nacional” e “Deu na Internet” -- que certamente poderia se chamar “deu no G1” e não faria diferença.

domingo, 2 de novembro de 2008

Retrato da violência

Por Rodrigo Minêu

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Alfinetada

Bom foi ver o comandante Eduardo José Félix, da Polícia de Choque, dando entrevista pra imprensa no último dia 21. Aliás, a matéria do Jornal Nacional sobre as dúvidas do sequestro é que trouxe declarações interessantes dele e de um comandante do Gate, Grupo de Ações Táticas Especiais. Duas delas, sobre uma mesma pergunta, me chamaram a atenção. Leia a transcrição:

"Outra questão: por que a polícia não usou um atirador de elite para atingir Lindemberg? “Se nós tivéssemos atingido com um tiro de comprometimento o Lindemberg, fatalmente os senhores hoje estariam questionando o Gate: por que não negociaram mais? Por que deram um tiro de comprometimento num jovem de 22 anos numa crise amorosa, que estava, num determinado momento da sua vida, fazendo algo que ele poderia se arrepender pelo resto da vida?”, disse o comandante Eduardo José Félix. “Faltou oportunidade. Ninguém tem a melhor visão que os policiais lá. Faltou oportunidade porque tinham obstáculos que poderiam desviar o projétil. Um deles era o próprio Lindemberg. O projétil o atingindo e transfixando é desviado”, explicou Adriano Giovaninni."

Ou seja, por responsabilidade. Não quero aqui defender a polícia, mas falar de unma mania terrível dos meios de comunicação de ignorarem seus próprios defeitos. A grande mídia quer, sim, criticar, questionar, e é este seu papel, certo? Quando há fundamento e construtividade, sim. Mas o comandante estava certo: as emissoras fariam o maior drama dos policiais que se adiantaram, não deram chace ao rapas e lhe desferiram um tiro no meio da testa, usando como desculpa (sic) preservar a vida das sequestradas. O pessoal dos Direitos Humanos, então... uma inflamação só. E o Gate seria bombardeado, desculpe o trocadilho, se a bala atingisse Eloá. Eles optaram por negociar, e o erro não foi esperar, mas, ao que tudo indica, uma ação mal planejada de invasão ao apartamento.

Confira a matéria em vídeo:

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Uma tragédia midiatizada II

Reportar o caso do sequestro de Eloá Pimentel e Nayara Rodrigues, em Santo André, ABC Paulista, na útima semana, é sinônimo de explorar um melodrama. Pelo menos para boa parte das empresas de comunicação. Normalmente o sentimentalismo fica mais para o lado dos canais abertos, enquanto os canais de TV fechada costumam ser lembrados por um melhor tratamento dos fatos; mas se isso fosse uma regra, como tal, haveria uma exceção.

No último dia 20 começou o velório de Eloá, morta após receber dois tiros disparados, segundo a imprensa, pelo ex-namorado e autor do sequestro, Lindemberg Alves. Como era de se esperar, em um caso de comoção nacional, o cemitério fica pequeno para tanta gente. Cerca de 30 mil pessoas passaram pelo Cemitério Municipal de Santo André, e a imprensa não fez pouco caso do fenômeno. Durante à noite, os telejornais fizeram diversas transmissões ao vivo de parentes, amigos, solidários e curiosos que, literalmente, passaram ao lado do caixão -- você apanharia de um segurança se ficasse mais de três segundos parado.

No dia seguinte a vigília midiática continuou e não ficou por menos. Pelo menos não para a Globo News. O canal SÓ transmitiu o fim do velório e sepultamento. Lá fui eu, de manhã, querendo saber o que acontecia no país e no mundo, para assistir um boletim do Em Cima da Hora. Mas que inocente eu fui: NADA MAIS acontecia, exceto a morte de Eloá. Foram não sei quantos minutos de diversas imagens do enterro ao vivo, com helicópteros sobrevoando o cemitério e câmeras próximas à sepultura registrando a emoção dos parentes e amigos da jovem.

Para completar, a repórter da Globo News, Ana Paula Campos, fez jus ao caso Eloá, ironicamente falando, e não deixou o sentimentalismo morrer. Despiu-se de sua veste de jornalista credível e pôs toda a emoção possível nos seus flashes ao vivo: falou da foto da menina na camisa, "com toda a sua beleza e juventude, relamente uma tragédia. Ah, claro. Como toda a imprensa parece ter questão de sublinhar, parece que a morte de um idoso / adulto nao teria o meso significado, a mesma dor, por mais que pertençam eles à mesma raça humana da adolescente. Muitos adjetivos cercaram a cobertura da repórter -- seria tensão de fazer um vivo sem muito roteiro?

Gancho sem ponta - No meio da cobertura, Ana Paula levanta a questão de um depoimento dado por um amigo de Lindemberg. Que ele era um bom garoto, mas que se desviou depois de ter acesso fácil a uma arma (como se o caráter de uma pessoa de formasse por seus instrumentos, não por suas escolhas). "É muito fácil ter acesso a ma arma aqui em São Paulo". E em como toda cobertura showrnalística, esquece-se o bom e o necessário. A Rede Globo passou por cima do depoimento e não questionou, em outra matéria ou em um debate ou entrevista em algum telejornal, por exemplo, como Lindemberg teve acesso à arma e porque/como um jovem consegue um revólver .32 assim que pensa em ter um.

domingo, 19 de outubro de 2008

Uma tragédia midiatizada

Há tempos a mídia precisava de um melodrama para sustentar a sua audiência. O fim do caso Isabela, com seu já previsto esquecimento, fez com que entrássemos em um estado latente de espera pelo próxima novela jornalística "espreme-que-sai-sangue-e-lágrima". Não podíamos ficar muito tempo... não deu outra: na tarde do último dia 13, a imprensa paulista achou sua menina-dos-olhos: o sequestro no ABC. O jovem Lindemberg Alves, de 22 anos, entrara no apartamento da ex-namorada Eloá Pimentel, 15, que estava com colegas de escola, para sequestrá-la junto com a melhor amiga.

O motivo seria puramente passional. Ele não aceitava o fim do namoro que durou 2 anos e 7 meses. Ciumento, manteve com a jovem sete anos mais nova que ele um relacionamento um pouco instável, que teria culminado com a negativa definitiva da menina não fosse o rombo que a decepção amorosa causou no coração do rapaz. Armado e decidido a que "ouvissem falar dele", ficou no apartamento por mais de cem horas, num sequestro que demorou mais de quatro dias e mobilizou um enorme contingente de policiais... e jornalistas.

No último dia 17, a tragédia tanto citada em expressão por eles: no meio de uma tentativa pateta de invasão por policiais do apartamento, Eloá foi alvo de dois tiros na cabeça e virilha que lhe custaram a vida. Nayara, a amiga, levou um tiro na boca e não corre risco de morrer.

O que fica disto, no que e compete a este blog, é o tratamento que a imprensa deu ao crime. Transformou Lindemberg em uma estrela, ao acompanhar cada suspiro seu e querer noticiá-lo. Não só imagens: ele conversou com jornalistas ao vivo -- Sônia Abraão, na Rede TV!. Ganhou magnitude nas coberturas das TVs Record e Globo. Ficara famoso, e agora dizia às vítimas que mantinha sob uma arma: sou o rei do gueto, o cara. Transmitimos nosa irresponsabilidade a ele.

Não, Lindemberg. Você se tornou o rei de tdo o país no trono da Imprensa. Você em si não foi endeusado, mas sua presença nos telejornais foi supervalorizada, considerada essencial para manter a audiência. Negociações, ameaças, gestos: tudo interessava dentro daquele sequestro. Inlusive, repetindo a formula aplicada no Caso Isabela, matérias sentimentais sobre a vida de Eloá, colocando-a como uma vítima boa e inocente do cruel ex-namorado. A mesma matéria que construía o obtuário da menina Isabela como se todos nós já a tivéssemos conhecido, e precisássemos rever sua vida do ponto de vista mais algodão-doce possível. Não se trata aqui de endeusar Eloá e endiabrar Lidemberg, mas de não pré-julgá-los e usarmos sua história, para o bem ou para o mal.

O SBT, surpreendentemente, optou por uma cobertura séria: sem entrevistas por telefone, sem exageros, sem acompanhamento full-time ao estilo Datena -- acabou-se pedofilia: as edições do Brasil Urgente desta semana foram sequestro puro. A exceção se deve, claro, ao episódio-de-deixar-qualquer-um-estupefato do confronto entre policiais na cidade de São Paulo na última quinta-feira (16).

Mais uma vez, um crime vira novela e show. Quanto mais vai se sugar até o completo esquecimento? Mas nós gostamos... Sem nem a conhecermos, enchemos o perfil da jovem no Orkut com recados de amor e saudades (?), além de criar/entrar em comunidades de luto. Um ciclo sem fim, como já disse sobre cassos asim anteriormente.

Quantas Eloás, Lindembergs e Nayaras não morrem todos os dias sem que a mídia lhes dedique sequer uma nota seca de vinte segundos? Não defendo a pulicação de tudo, o que é humanamente impossível. Mas, sim, o equilíbrio e sobriedade que necessitamos para enfrentar dias assim.

domingo, 12 de outubro de 2008

Um passo

Brasília sedia terceira audiência pública sobre regulamentação da profissão de jornalista
* Do Ministério do Trabalho e Emprego


Foi realizada na manhã do último dia 9, em Brasilia, mais uma audiência do Grupo de Estudos Tripartite criado para discutir a regulamentação da profissão de jornalista. A pedido do ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, o Grupo tem percorrido as cinco regiões do país a fim de ouvir as partes envolvidas para que se possa chegar a um acordo sobre a regulamentação, proporcionando, também, um amplo debate entre os representantes do segmento e a sociedade civil.

"A regulamentação precisa ser feita da melhor maneira possivel. A gente torce para que se consiga construir um Projeto de Lei que atenda não apenas a jornalistas, mas toda a sociedade brasileira", disse o presidente do Sindicato dos Jornalistas do DF, Romário Schettino, um dos participantes da mesa de discussão.

O evento contou com profissionais da área e de representantes do Ministério do Trabalho e Emprego, Fenaj e OAB.

Registro - A primeira reunião do Grupo de Estudos aconteceu em Recife, na sede da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Pernambuco, com duas palestras que nortearam as discussões em torno da regulamentação da profissão de jornalistas.
Depois, foi a vez de Porto Alegre sediar a segunda audiência pública, também realizada na sede da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul. Mais de 50 profisssionais da área marcaram presença no evento.

Grupo - O Grupo de Estudos foi criado com objetivo de propor alterações na legislação em vigor a fim de viabilizar a regulamentação da profissão. Ele foi instituido por meio da portaria nº 342, publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 23 de julho de 2008, e dizia que o Grupo de Estudos seria composto por três representantes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), das categorias profissionais e das categorias econômicas (empresas de jornalismo).
No dia 13 de agosto, a a portaria 510/08, do DOU, trouxe publicada os nomes dos representantes encarregados de propor alterações na legislação em vigor.

Para o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, o grupo criado será o "melhor caminho" para chegar a regulamentação da profissão.

Próximas reuniões - Também estão programadas audiências em Belém, Rio de Janeiro e São Paulo até o final do mês.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

As liberdades e a expressão

A Rádio Metrópole, aqui em Salvador, é um caso peculiar dentro da programação baiana -- e todos os sentidos do termo. Ela já teve diversos perfis, pertencendo a diversos grupos, mas se estabilizou num quadro singular. Sua programação é musical somente das 23h às 6h do dia seguinte; o resto da grade é composta por diversos programas jornalísticos, informativos e de serviços sobre os mais diveros temas.

Quem vê esta descrição acha que a rádio tem o maior respaldo por aqui, não é? Mas que não se iludam com isso. Mário Kertész, dono da emissora que apresenta o Jornal da Cidade (das 18h às 20h), é o único que consegue, por aqui, burlar a lei que obriga as rádios a transmitirem a Voz do Brasil às 19h. Só não me pergunte como... De qualquer forma, Mário, que já foi prefeito de Salvador, é movido por interesses políticos e os deixa transbordar na sua programação. Foi explícito, por exemplo, o ataque do radialista ao então candidato à prefeitura de Salvador Antonio Imbassahy (certamente estimulado por uma associação ao Ministro Geddel Vieira Lima, "pai" da candidatura do atual prefeito e candidato à reeleição João Henrique). Seu programa, sua revista, seu jornal (sim, ele é um ACM mais magro, novo e mais desbocado) e sua partipação em um dos debates televisivos não deixaram dúvidas de sua "anti-preferência".

O limite da palavra - O Jornal da Cidade, apresentado por Mário, costuma ser fonte de várias discussões por seu conteúdo e pelos discursos, sempre polêmicos, do apresentador. Mas hoje não vou falar do que ele disse, mas do que ele deixou que dissessem. Ontem à noite, a ouvinte Júlia Paes escreveu ao programa criticando, como sempre, a situação em que se encontra a cidade. A assistente do radialista leu o correio e me deixou estarrecida em pleno trânsito. Desbocada (ou apenas sincera no seu desabafo), ela escreveu a expressão (peço licença para repetir) "fudendo" pelo menos três vezes, todas lidas no ar como se não fossem nada demais.

Não se trata de ser ou não pudica. Se trata de perceber o limite da liberdade de expressão e do uso de certas expressões. Um programa que passa neste horário, não pode se dar ao luxo de exibir tal desabafo. O horário é impróprio; por mais que o seu público seja bem segmentado, não nos esqueçamos dos pais que vão buscar seus filhos na escola e vão ouvindo a rádio no caminho de casa. Como explicar tal palavra e depois pedir a ele que não a repita? Da mesma forma que temos que controlar o que as crianças vêem na TV, fechemos seus ouvidos ou mudemos de estação.

Meu pai, que estava comigo, ficou estupefato com a leitura da carta sem nenhum tipo de "controle", afinal, você não precisa ser criança pra não gostar de certas expressões de baixo calão. Certamente, Mário sabia o que havia naquele e-mail antes de deixar sua assitente lê-lo no ar, mas ninguém é obrigado a ouvir isso. Revoltado, ele me perguntou o que poderia ser feito mais diretamente a respeito. E eu, pesarosa, lhe disse: "infelizmente, não muita coisa". No máximo um correio à emissora, que não deve ser lido no ar com a mesma permissividade que a carta de Júlia Paes foi (mas a esperança é a última que morre). O Sindicato dos Jornalistas da Bahia é pouco operante e somos, por si só, uma categoria extremamente desunida e dotada de um corporativismo interesseiro. Aqui, não há cenário para ataques apolíticos a "colegas de profissão". O caso se torna mais grave ainda quando se sabe que palavrões e termos de baixo calão, além de discursos ofensivos e machistas são, na verdade, uma rotina no programa.

Discurso velho - Defendo que o Jornalismo deve ter um órgão regulador. O fazer jornalístico no país é um "samba do crioulo doido", com o perdão do termo, e é criticado quem quer dar harmonia ao desfile. Por que praticamente todas as profissões de bacharelados têm Conselhos Federais e Estaduais e nós agimos sem nenhum tipo de regulamentação? Porque nós não podemos ser advertidos, punidos quando passamos dos limites ou fazemos algo errado? O presidente Lula virou saco de pancadas da imprensa quando defendeu a criação do conselho. Mas nós, jornalistas, temos que ser inimputáveis, não é? Se alguém nos critica e adverte publicamente por algo que dissemos ou publicamos, trata-se de um atentado à tão imaculada Liberdade de Expressão. Discurso empoeirado e hipócrita, isto se tornou uma desculpa para todo tipo de disparate. E o espectador que se f...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Brancos, nulos e correntes

Há muito tempo descobriu-se uma nova maneira de "exercitar a consciência política": mandando correntes de e-mails.

Esta semana, recebi uma mensagem falando sobre a diferença entre votos brancos e nulos, e encorajando o voto nulo como voto de protesto. O texto não é novidade, já devo ter recebido na minha caixa umas três eleições antes -- o que torna a coisa ainda mais "interessante". A mensagem é completamente tendenciosa e chega a ser incorreta. Confira um trecho:

"Em Branco não significa que o eleitor não escolheu nenhum candidato, mas sim que ele abdica de seu voto. Não é ato de contestação e sim desconformismo (sic). Os votos em branco significam 'tanto faz' e são acrescentados ao candidato de maior votação no último turno.
Exemplo: Se existem dois candidatos 'Bonzinho' e 'Ruinzinho': 'Bonzinho' termina com 52% dos votos; 'Ruinzinho' recebe 35%; 10% são votos em branco e; 3% são nulos, isso significa que 3% dos eleitores não querem nem 'Bonzinho' nem 'Ruinzinho' no poder, mas 10% dos eleitores estão satisfeitos tanto com 'Bonzinho' como com 'Ruinzinho', o que vencer está bom. Assim o 'Bonzinho' tem uma aceitação de 62% (52%+10%) do eleitorado.
Já o Voto Nulo é um protesto válido. Ele quer dizer que o eleitor não está satisfeito com a proposta de nenhum candidato e se recusa a votar em umou outro, a existência dele permite que o eleitor manifeste a sua insatisfação.
O voto nulo, ao contrário do que parece, é um voto válido. Ninguém fala dele, nem mesmo nas instruções para votação. Explicam como votar em um candidato ou como votar em branco, mas ninguém explica como anular um voto...


Por que os votos nulos são desencorajados? Por que ninguém fala deles???
Porque, se na eleição entre 'Bonzinho e 'Ruinzinho', 'Bonzinho' terminasse as eleições com 39% dos votos e; 'Ruinzinho' com 31%; 10% de brancos e; 18% nulos. As eleições teriam que ser repetidas e nem 'Bonzinho' e nem 'Ruinzinho' poderiam participar das eleições naquele ano.
Se nenhum dos candidatos conseguirem a maioria (mais de 50%) no último turno, as eleições têm que ser CANCELADAS!!! Os candidatos são trocados e novas eleições têm que ocorrer.
Ou seja, o voto nulo, do qual ninguém fala e que o terminal acusa como 'incorreto', é o único voto que pode anular uma eleição inteira e remover docenário todos os candidatos daquela eleição de uma só vez."


Quem decidiu demonstrar sua consciência política (dá pra chamar assim?) por esta corrente, perdeu tempo. Primeiro, porque não dá pra fazer uma coisa somente através da outra. Segundo, porque este e-mail é uma lenda e, portanto, totalmente improcedente. A pessoa lê, pensa "é, político nenhum presta, vou protestar votando nulo!" e passa a corrente adiante. Ela nem se dá ao trabalho de ler a lei -- obrigação de qualquer cidadão.

Só pra começar, a lei 9.504, de 30 de setembro de 1997, fala: "Será considerado eleito o candidato a Presidente ou a Governador que obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos. Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição no último domingo de outubro, concorrendo os dois candidatos mais votados, e considerando-se eleito o que obtiver a maioria dos votos válidos." Por maioria absoluta entenda-se, simplesmente, a maioria. Num universo de 100, 15 do candidato A em relação a 7 do B, sendo o resto nulos e brancos, é maioria absoluta. NÃO SÃO COMPUTADOS OS VOTOS BRANCOS E NULOS. Este site aqui dá uma boa explicação, juntando diversas leis e diferenciando voto nulo e nulidade da eleição.

Falemos de palavras. Chamar de "Bonzinho" e "Ruizinho" é demais... besta e tendencioso demais. Segundo, desconformismo só existe na cabeça de quem escreveu isso -- e que, por sinal, não teve coragem de assinar. Isso deveria querer dizer o contrário de conformismo / conformidade, o que, por si só, já fica contraditório diante do conteúdo da mensagem. O autor do texto certamente queria escrever conformismo, mas se preocupou tanto em colocar negatividade no texto, que negou até o que não devia.

O voto branco não significa que o eleitor abriu mão de seu voto. Nem Deus é tão onipresente pra entrar assim na cabeça do eleitor e entender porque ele votou branco. Quem vai à urna e vota branco também pode ter decidido não votar em nenhum candidato porque não gostou de suas propostas, ou porque não se decidiu. E nem todo voto nulo é protesto válido; o eleitor pode ter digitado, simplesmente o número errado, ou não conhecer nenhum dos candidatos e não querer dar seu voto a quem não conhece (isso não é necessariamente manifestaçã de consciência política...). E uma outra observação a se fazer é que muitos votos são considerados nulos não porque o eleitor digitou um número que não existe e confirmou, mas porque o candidato poder ter tido a candidatura indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral.

"Por que os votos nulos são desencorajados? Por que ninguém fala deles???" Porque não faz o mínimo sentido que, num país de regime democrático e que tem o voto como obrigatório, encorajar a nulidade do voto não faz o mínimo sentido. Quer protestar? Levante uma bandeira, vá às ruas, mostre a cara, assine o texto que escreve, faça mais do que mandar correntes prontas sentado em frente ao computador. Quer um político que preste? Conheça os candidatos, procure saber o que eles têm e propõem. E acompanhe o trabalho de quem já foi eleito, porque se ele não fez nada, você terá como saber.

sábado, 20 de setembro de 2008

A ignorância do LHC

No último dia 10, cientistas de diversas partes do mundo deram um passo essencial no futuro da humanidade. Fizeram o maior experimento científico de todos os tempos. Têm em mãos algo que nos encheu de esperança de se fazer grandes descobertas. Criaram uma ferramenta apta para responder uma das maiores icógnitas do universo -- literalmente.

Pelo menos o discurso acima foi utilizado por cientistas e muitos jornalistas no lançamento do LHC, o Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider, em inglês). O projeto é o maior acelerador de partículas já criado, e simula as condições no momento da criação do universo. Em plena velocidade, o LHC gerará 600 milhões de colisões por segundo entre partículas subatômicas chamadas prótons, que explodirão em novas partículas até agora não observadas.

O LHC tem como principal objetivo encontrar uma partícula chamada Bóson de Higgs, que esplicaria porque tudo neste universo é feito de massa. Ele também quer investigar se há outras dimensões espaciais além das três já conhecidas, e como o universo evoluiu.

Por trás de todos os aparatos, não se pode negar: muitas promessas de avanços e descobertas. E, com o perdão do trocadilho, num gasto astronômico: 3 bilhões de euros. Gasto não; investimento, os defensores dizem.

A mídia comprou bonito a idéia. Colocaram o LHC num patamar elevadíssimo por tudo que ele representa e quer descobrir. Sem dúvida, numa fizemos um projeto com este. Mas muitos de nós fomos acríticos ao lidar com ele. Países europeus se juntaram pela causa do LHC facilmente, e formaram este orçamento bilionário. No entanto, uma série de problemas priores assola o planeta (não o universo, ainda) e nós só conseguimos tomar atitudes medíocres diante disto.'

Um exemplo: a África, apesar de toda a sua beleza, virou o continente símbolo do atraso, dos doentes e da guerra. Países desenvolvidos financiam suas mortes, e fecham os olhos para a miséria e as doenças. Podemos fomentar a ciência, mas como nos considerarmos bons investidores em ciência sem sermos bons humanos? O cientetista / investidor deve ser humano, antes de tudo.

A imprensa deveria ter levantado a questão: porque se investe tanto nisso e é tão difícil coçar o bolso para questões sociais? Estamos acabando com o nosso planeta (isso enquanto a própria natureza não se revolta), e não gastamos 3 bilhões de euros numa solução pra isso. E detalhe: o dinheiro foi para uma máquina que só volta a funcionar a partir do segundo semestre de 2009, por causa de um vazamento de hélio. Tanto para tão pouco...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Será que passa?

Projeto cria conselhos de jornalismo e dispensa graduação
*Por Newton Araújo Jr, da Agência Câmara

Está em análise na Câmara o Projeto de Lei 3981/08, do deputado Celso Russomanno (PP-SP), que cria os conselhos federal e regionais de jornalismo e abre a possibilidade de pessoas sem diploma de jornalismo exercerem a profissão, desde que tenham pós-graduação na área. A proposta exige um exame de ordem para os novos jornalistas obterem o registro, como já acontece com os advogados, por exemplo.

Projetos semelhantes haviam sido redigidos duas vezes por Celso Russomanno, que é apresentador de televisão, repórter e bacharel em Direito. O primeiro foi rejeitado pelo Plenário, em 2004, junto a proposta similar do Poder Executivo. O segundo foi retirado de tramitação pelo próprio autor, em 2005.

De acordo com o texto do PL 3981/08, os conselhos terão a finalidade de "orientar, disciplinar e fiscalizar" o exercício da profissão de jornalista. Eles também deverão lutar pelo direito à livre informação plural e pelo aperfeiçoamento da imprensa.

Forma de escolha - Os integrantes dos conselhos serão eleitos, para mandatos de três anos, pelos jornalistas regularmente inscritos. O primeiro conselho federal será escolhido por uma assembléia constituída por delegados indicados pelos sindicatos da categoria.

Os indicados precisarão estar entre aqueles devidamente habilitados para o exercício da profissão, inscritos nas respectivas entidades e no pleno gozo de seus direitos, com a proporcionalidade de um delegado para cada 500 filiados ao sindicato.

Os integrantes dos primeiros conselhos regionais, que promoverão a instalação definitiva desses, serão designados pelo conselho federal, em caráter provisório, dentre os indicados pelos sindicatos. No prazo de seis meses a partir da sua instalação, o conselho federal deverá editar o regulamento geral e o código de ética e disciplina, por deliberação de pelo menos dois terços das delegações.

Atividades privativas - A proposta acrescenta, à atual lista de atividades privativas de jornalistas, a reportagem fotográfica e a assessoria de imprensa ou de comunicação social em entidades públicas ou privadas. Essa norma, que estava na proposta anterior de Russomanno, é contestada por publicitários e por profissionais de relações públicas que exercem essa atividade de assessoria.

Além disso, o projeto define os direitos dos jornalistas. Entre eles, estão: recusar-se a realizar trabalho que afronte a lei, a ética ou as suas convicções profissionais; ter liberdade de acesso a informações em repartições públicas, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista; entrar livremente, para colher informações, em qualquer local ou edifício em que funcione repartição pública, inclusive autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, e salas de sessões dos três Poderes; e dirigir-se às autoridades públicas nas salas e gabinetes de trabalho, independentemente de horário ou audiência previamente marcados.

Tramitação - O projeto será analisado, em caráter conclusivo, pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um toque de realidade

O jornalismo já não é uma carreira atraente para os jovens
*Por Paul Alonso, no Knight Center for Journalism in the Americas

A matrícula na carreira de Comunicações caiu 30% nas universidades de Buenos Aires, Rosario e La Plata nos últimos quatro anos, informou o Crítica Digital. Enquanto Cristina Kirchner se indispõe com a imprensa a todo o momento, a profissão já não atrai tantas pessoas.

Professores e estudantes acreditam que a baixa se deve às dificuldades de se encontrar um caminho no mercado de trabalho, ao desencanto com a profissão, à ausência de paradigmas no jornalismo ou à falta de credibilidade, acrescenta a nota.

Não podia haver verdade maior para ler estes dias.

domingo, 14 de setembro de 2008

Erro na medida

Seguindo a linha do Correio*, o Jornal A Tarde reformulou seu site na mesma semana do lançamento do novo Correio da Bahia. A idéia é que o novo A Tarde On Line seguisse uma linha mais moderna, agregando mais conteúdo e sendo mais versátil. Inclusive, o grupo passou a ter conteúdos em vídeo.

Mas erraram na medida da transformação, ou melhor, na quantidade de informação. Da primeira vez que vi, tomei um susto: o site é bem poluído, com muita coisa na tela "ao mesmo tempo agora". Fotos, vídeos e manchetes se misturam em três colunas que mesclam diversos conteúdos. Indo na tendência do portal Globo.Com, em que as categorias ganham cores diferentes, o A Tarde colocou uma cor para cada tipo no seu site -- o que deixou a página com um jeito "caixa de lápis de cor". Azul claro, verde-limão, rosa, amarelo, laranja, azul ciano, vermelho, preto: tudo lá.

Uma outra sombra anda perseguindo o site: a falta de atualização. Uma coisa que o antigo site sempre teve foi uma atualização eficiente, mas que pareceu se perder no novo modelo. Quando você entra na capa de alguma editoria, não é difícil encontrar links para notícias de dias anteriores em grande destaque. Na sexta-feira (12), enquanto a perita Delma Gama depunha para o Caso Isabella aqui em Salvador (depois de quatro tentativas!), o site ainda dizia que o depoimento dela havia sido adiado, e que seria realizado na tarde do mesmo dia.

sábado, 13 de setembro de 2008

Pífio Paradoxo

Um ano se passou, a competição mudou e o quadro é o mesmo: a mídia fala o mínimo necessário sobre as disputas de jogos evolvendo atletas com algum tipo de deficiência.

Em 2007, quando da transmissão dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, escrevi uma crítica sobre a fraca cobertura que se fazia do evento. E olhe que ele aconteceu aqui, em terras tupiniquins. No mês passado, no encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, já previa que o mesmo poderia se repetir -- depois da festa, nenhum meio de comunicação sequer citou que as Paraolimpíadas começariam no último dia 6.

Casa de ferreiro, espeto de pau - Uma semana se passou desde que o evento começou, e o que se vê é algo precido com um "não mais que a obrigação". Emissoras de rádio como a CBN e a Band News FM praticamente apagaram os boletins com informações dos jogos. Nos sites, ah, quase não há Pequim. Na capa, o futebol e a Fórmula-1 voltam aos destaques, relegando as Paraolimpíadas ao inferior da página (isso se há destaque na capa!!). Volto a falar dos quatro grandes portais do país:

No Globo.Com, uma página traz as últimas notícias, boa parte delas sem fotos nem vídeos. Além disso, só o bom, velho e elementar quadro de medalhas; nem a programação das provas e competições você encontra no site. O iG, este aí nem tem mais nada sobre Pequim. Se quiser saber sobre os jogos Paraolímpicos, não procure lá: você não vai achar uma palavra sequer. O Terra e o Uol é que estão melhores, inclusive com a programação da disputa. Quem entra nestes sites ainda tem a chance de ver o que é cada modalidade -- afinal, nem todo mundo sabe que raios é Bocha. Ainda assim, os sites e a cobertura em geral estão magros.

Na TV, meio que fez o maior espetáculo (no sentido negativo do termo) sobre as Olimpíadas, quase não há transmissão. A TV Brasil fez jus a sua proposta e foi a ÚNICA a exibir ao vivo a cerimônia de abertura dos Jogos Paraolímpicos. Todas as equipes das emissoras enviadas para Pequim foram praticamente esvaziadas -- deixa-se, para constar, um cinegrafista, um técnico e um repórter (se tiver). Nos telejornais nacionais, as medalhas brasileiras são reduzidas a curtos VT's, na maioria das vezes notas cobertas. E olhe que estamos em 11º lugar no quadro de medalhas (informação do momento de postagem).

Nos meios de comunicação, em meio a tantos ferreiros, o espeto é de pau, madeira frouxa. São tão firmes ao fazer matérias defendendo o direito dos deficientes e iniciativas de acessibilidade, e dão tiros nos pés todos os dias. Em uma cobertura pífia, caímos em contradição. Fazemos nosso próprio e revoltante paradoxo. Com um país que não sabe como lidar com a população portadora de deficiência, conseguimos o milagre -- não há outro termo num Brasil sem políticas efetivas -- de estarmos entre os 15 países no quadro de medalhas. E não damos o devido valor a isso.

Num vício de entortar critérios de noticiabilidade, enquadramos tudo na comoção e, como a galeria de fotos do Globoesporte.Com insiste em estampar no título, jogamos tudo no mesmo saco dramático da "superação". Sim, a vida de portadores de deficiência envolve superação diária, mas é muito mais do que isso. Reduzir seu esporte e seu dia-a-dia à superação é dramatizar e colocá-los num patamar mais distante do nosso do que de fato é. Eles não estão à beira da morte e não são incapacitados. E mais: a superação é inerente a todo e qualquer atleta, e isso os faz enquanto tais.

Mas é tudo uma questão de referencial: não é necessária, nas Paraolimpíadas, uma cobertura como a dos Jogos Olímpicos porque, esta sim, foi exageradíssima. A mídia e o Comitê Olímpico Brasileiro elevaram e muito a participação dos brasileiros em Pequim. E o pior para nós, jornalistas, de maneira acrítica. No dia-a-dia do showrnalismo, vivemos uma overdose de Olimpíadas e um ritmo terminal de Paraolimpíadas. E sem olharmos no espelho os nossos defeitos.

domingo, 31 de agosto de 2008

Estadão, monitoramento e clipping

Estado de S. Paulo terá nova central de monitoramento de notícias alheias
* Por Eva Menezes, no Knight Center for Journalism in the Americas

O Estado de São Paulo terá uma central de monitoramento multimídia de notícias, funcionando 24 horas na redação, informou o Comunique-se. Vinte e um jornalistas farão o monitoramento das principais notícias pela internet, rádio e TV e produzirão outras notícias, a partir delas, para publicar nos meios de comunicação do grupo.

Ricardo Gandour, diretor de redação do jornal, acrescentou que a nova central de notícias continurá um trabalho que O Estado de S.Paulo já faz, que é o de integrar a redação do jornal impresso e a do portal Estadão.

Um espaço assumido para olhar o que os outros estão fazendo. Vamos esperar que a produção de notícias a partir dos outros sites seja creditada. Já vi a Agência Estado publicar uma notícia do iBahia.com quase igual, só tirando umas três palavras. E quem postou ainda assinou. Pena que não tenho link aqui pra mostrar, isso aconteceu há meses e não há histórico.

Jornalismo anencéfalo

Estava lendo o Correio* de sábado quando vi nele uma coisa que me chamou a atenção: a nota reportava a liberação pela Justiça, em Porto Alegre, para que uma mulher abortasse um feto anencéfalo. Olha o que a nota diz:

A anencefalia significa, em sua tradução literal da etimologia, "falta de cérebro", mas nem todo anencéfalo não tem o órgão. Nem sempre se trata de um vazio na caixa craniana; o que pode ocorrer, também, são más formações durante a gestação que façam com que o cérebro seja apenas uma massa inútil dentro do corpo. Desvios genéticos podem fazer o cérebro vir pela metade, ou as conexões cerebrais não funcionarem. Enfim, o feto tem cérebro, mas ele não funciona.

No caso acima, a anencefalia não necessariamente pode significar falta do órgão, mas a nota faz você pressupor que sim. Se isso não é verdade, seria um erro grave de tradução por quem não procurou saber o que o termo "anencefalia" pode significar -- ou que sabia, mas ignorou. Pior do que a "presunção" de uma coisa ser outra, foi a ignorância do significado na Globo News, anteontem, no Jornal das Dez. O apresentador André Trigueiro, ao falar da votação sobre a liberação do aborto de fetos anencéfalos de um modo geral, usou a expressão "fetos sem cérebro". É o tipo de falha que não pode ser cometida; este nível de informação é elementar para quem vai escrever uma notícia sobre o tema.

sábado, 30 de agosto de 2008

Do Correio II

Pois é, estamos mesmo de olho no fenômeno Correio*. Disse, sim, que o saldo do lançamento do novo jornal-com-site foi positivo, alguns os vícios mais graves até citados por mim no post anterior continuaram: erros de português.

Na edição de quinta-feira (28), foi encontrada a expressão "encima". Era para ser "em cima". Erro gravíssimo de ortografia. Na sexta-feira (29), uma foto tinha a legenda "lklklk lklkklk"; provavelmente colocaram como modelo para preencher o espaço enquanto a legenda verdadeira não vinha. E não foi mesmo.

Abaixo, duas gafes vistas no jornal de hoje: na primeira, uma vírgula separa o sujeito do predicado (coisa que aprendemos ainda no primário!); na segunda, não sei se erro de Português ou Geografia, quando a capital de Rondônia, Porto Velho, só ganha inicial maíuscula na primeira palavra.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Band realiza novo debate entre prefeituráveis

Acontece na noite de hoje, às 22h, na Band, o segundo debate entre candidatos à Prefeitura de Salvador em 2008. O primeiro do ano aconteceu no dia 31 de julho. A emissora recebe, além de dezenas de carros de sons e de pessoas contratadas com roupas, bottons e bandeiras (e que vão ficar, óbvio, do lado de fora), os prefeituráveis João Henrique (PMDB), Walter Pinheiro (PT), Antônio Imbassahy (PSDB), ACM Neto (DEM) e Hilton Coelho (PSOL).

Passadas quase duas semanas de horário eleitoral gratuito, a expectativa é de um debate mais quente, com mais provocações e troca inteligente de perguntas e respostas. Além de um mediador Arnaldo Ferreira menos nervoso -- o debate anterior foi o primeiro do jornalista, e deu pra perceber a tensão da estréia.

Novos ares na imprensa baiana

A Bahia, em especial Salvador, vive um momento há muito não visto, se não inédito: uma grande renovação na sua imprensa. Na quarta-feira (27), estreou nas bancas o novo projeto gráfico do jornal Correio da Bahia, também com novo site.

O burburinho não era à toa. As propagandas em outdoors antecipadas do Jornal A Tarde, hoje líder de mercado isolado (detalhe, a mídia impressa na capital é pobre de opções, apenas três: ele, o Correio e a Tribuna da Bahia), não foram por nada. O novo projeto iria de fato balançar o mercado.

Tempos obscuros

O antigo Correio da Bahia, hoje apenas Correio*, passou quase 30 anos estagnado. Design antiquado e pobre, "sem-graça", sem atrativos para o leitor; sem boas artes e diagramação; conteúdo com textos fracos às vezes mal-escritos; viés político forte, com enquadramento de modo a defender o grupo político carlista e "descer a madeira" no resto; enfim, nada no jornal (exceto os tempos extintos do Caderno Correio Repórter), demonstarava credibilidade. O veículo seguia minguado, com índice de vendas que mal dava pra cobrir os prejuízos dos últimos anos. Os comerciais de assinatura mais vendiam os outros produtos do que o jornal, com assinaturas casadas e brindes.

A Rede Bahia, grupo de comunicação do jornal, precisou escolher: ou acabamos com ele, ou apostamos (e investimos pesado) num baita projeto de renovação. Com a morte de Antônio Carlos Magalhães, que tinha o timão do "navio RB", ficou mais fácil se desprender destes laços malditos que só traziam prejuízos ao grupo. A Rede escolheu apostar.

Mudança

Contratou-se a Innovation, empresa de consultoria que "determinaria" o que era necessário ser feito. Depois de meses, era hora de se parir o filho: em formato conhecido na Europa, o berliner, o jornal agora está menor, porém mais volumoso. Todo em cores, o novo projeto privilegia a fotografia e as artes (finalmente! Mal gráficos o Correio antigo tinha).

As notícias ficaram menores, e a produção é maior; o objetivo é seguir uma tendência de "leitores sem tempo", detectada pela empresa de consultoria aqui no estado. As matérias mais aprofundadas ganharam uma editoria específica, a Mais. A renovação veio, mas não se foge do outro gume da faca: saber que reportagens mais profundas ficaram reservadas a um só espaço determinado, e que o público cada vez diz ter menos tempo de ler jornal.

De uma publicação desinteressante, agora o jornal está atraente. Na banca de revistas em que comprei o primeiro volume, o revisteiro falou: "nunca vi este jornal sair tanto". A curiosidade e o frisson são grandes, afinal, é tudo novo. A linha editorial também mudou, e o "carlismo impresso" parece ter sido deixado de lado, em prol de mais credibilidade e maior venda. Mas acredito que a Rede Bahia receba um retorno positivo desta mudança. Entre os jornalistas e amigos que encontrei nesta quarta-feira, o Correio* parecia ter sido aprovado.

Na internet

O site também mudou, já era hora. Igualmente desinteressante, sem conteúdos exclusivos, lay-out pobre, com erros de formatação e digitação, agora ganha endereço novo, www.correio24horas.com.br. A equipe contratou mais gente para que o site passe a produzir o seu próprio conteúdo, não mais sendo o iBahia.com o único produto de internet da Rede Bahia. O Correio pode ser lido on-line, mas não mais impresso.


O lay-out é "a cara" do jornal, colorido, atraente, com notícias produzidas por todo o dia. Mas é um Folha On-Line baiano: não tem como acessar um e não se lembrar do outro. Clique aqui e veja a semelhança. E olha que o Folha passou por renovações na internet também.

O saldo do primeiro dia foi positivo, mas estamos de olho neste fenômeno.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Esqueceram da Para


Para a mídia e boa parte do público, Pequim 2008 acabou. Acabou-se o maior evento esportivo do mundo. O que muita gente não se lembra é que, junto com uma Olimpíada, vem uma ParaOlimpíada.

Neste post, praticamente repito a crítica que fiz à cobertura brasileira sobre o ParaPan do Rio em 2007. Na madrugada de hoje encerraram-se os Jogos Olímpicos de Pequim e, com a queda da agenda, surgiu outra: os jogos de Londres em 2012 -- elementar, afinal, encerra-se a festa de uma anunciando a outra. No entanto, um silêncio permaneceu por todo o dia e incomodou: a imprensa NADA falou sobre os jogos Paraolímpicos. Acaba-se as olimpíadas, mas não se encerra a participação. Sequer uma frase de uma matéria citava algo do tipo "agora é esperar as ParaOlimpíadas de Pequim, que vêm por aí!".

E não falta muito: a disputa começa em 6 de setembro e vai até o dia 17 do mesmo mês. Quarenta e oito atletas brasileros vão participar dos jogos. Faltando menos de duas semanas para o evento, nada foi dito sobre ela, em nenhuma mídia. Mais do que isso: nos quatro grandes portais brasileiros -- Terra, Globo.com, iG e Uol, novamente, nada é citado sobre as ParaOimpíadas nos sites especiais Pequim 2008. Pesquisando na Globo.com, a ultima grande citação ao evento é de Junho, quando um atleta brasileiro é selecionado para os jogos. Se não, uma matéria do último dia 21 fala sobre um tufão que impediu a delegação Paraolímpica de embarcar. Não fosse o tufão, que reteve o vôo no Canadá, o embarque teria sido notícia?

Vamos ver se, daqui a três semanas, eu vou ter que escrever um post falando do emudecimento da cobertura dos Jogos Paraolímpicos de Pequim 2008. Mas, do jeito que a coisa tá indo, é melhor eu já ir pensando no texto.

domingo, 24 de agosto de 2008

Golden men

Uma pausa nas metalinguagens para uma homenagem.

Minha única madrugada para assistir às Olimpíadas de Pequim foi a de hoje. Apreensiva, fui ver a disputa da final do vôlei masculino entre Brasil e Estados Unidos. Torcia horrores pelos nossos golden boys, mas sabendo que o páreo ia ser mais do que duro.

Tive a honra de ver a despedida de dois grandes jogadores da seleção, Marcelinho e Gustavo, que jogaram majestosamente. Aliás, apesar da derrota, todos jogaram maravilhosamente. União, força, disciplina, visão de jogo, concentração: tudo estava neles, um time pra ficar na história. Não é à toa que são considerados os meninos de ouro do vôlei.

Num país onde só se fala e se enxerga futebol, é altamente significativo enxergar o desempenho dos nossos homens na quadra e no campo. Ainda nos consideramos o país do futebol, mas, só se for o feminino. A turma de Dunga está jogando um futebol medíocre, dentro ou fora das olimpíadas; colocam o técnico como Judas, mas a culpa é comunitária. Boa parte deles não leva o esporte e os brasileiros a sério. O bronze foi mais do que eles mereciam.

Enquanto isso, Bernardinho desenvolve um excelente trabalho. Com sua "neurose", ele, que nasceu para ser disciplinador, fez estes atletas jogarem como nunca. Oito anos de ouro, de crescimento, de um trabalho intenso e incansável que se refletiu nos diversos pódiuns, prêmios e medalhas. O resultado de seu método de comando está nso jogadores. Eles são uma família que não leva trabalho pra casa; cumpre o que tem que cumprir nas quadras, a gente bem vê.

Minha homenagem vai para estes homens brilhantes, que levaram a prata mas que valem mais que ouro (não dá pra fugir do clichê). Sua dedicação, seu trabalho nas quadras nos enchem de orgulho a cada partida; a cada saque; a cada ponto; a cada bola pega lá no fundo, depois de um pique, a cada bloqueio bem-sucedido. Homenageio o pai de tudo isso, aquele que quase também foi posto pra Judas por não ser perfeito. Bernardinho, você é um exemplo de técnico e de homem. Se vai sair, ou não do comando do time, não importa: você já fez história.

No vídeo abaixo, ele fala à Globo sobre o final deste ciclo com os jogadores da seleção brasileira de Vôlei:

Jornal da Band homenageia ouro de Maggi em abertura

Este post, um pouco atrasado, é só para registro, uma vez que não há vídeo disponível sobre seu conteúdo.

Ontem, a saltadora brasileira Maurren Maggi ganhou uma medalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim. Mais do que isso, a primeira medalha feminina na competição deste ano. Mais do que isso, a primeira medalha feminina individual da história do país em Olimpíadas. Como de praxe, ela foi a abertura de TODOS os telejornais nacionais do país pela sua conquista. Muito merecidamente, óbvio, sua vitória foi belíssima, e apertada: um centímetro fez toda a diferença.

O Jornal da Band e o Jornal Nacional fizeram um vídeo só com o hino nacional e imagens de Maurren competindo e comemorando para homenagear a atleta. Escolhi o do Jornal da Band porque ele me causou mais impacto: no lugar da vinheta, abriu o jornal de ontem, e a edição foi espetacular, de arrepiar mesmo. O JN foi um pouco mais convencional.

E aqui, uma bronca para as duas emissoras: não consegui o vídeo nem de uma, nem de outra.

sábado, 23 de agosto de 2008

Riscos e correções

Nesta semana, uma matéria metalinguística me chamou a atenção no Jornal Nacional. Na última segunda-feira (18), o telejornal exibiu uma matéria em que os correspondentes da Globo ollaMarcos Losekann e Paulo Pimentel foram as mais novas vítimas do grupo político-terrorista Hezbollah. Segundo o JN, eles foram sequestrados e interrogados por integrantes do grupo por cinco horas, além de terem parte do equipamento e cartões de memória dos celulares apreendidos. Eles estavam fazendo uma matéria sobre uma lanchonete no Líbano.



Jornalismo é uma profissão de risco, sempre foi. Há alguns anos, foi considerada como a quinta profissão mais estressante. Imagine, então, o que é trabalhar em caráter investigativo ou em países de constantes tensões bélicas e políticas. Losekann e Pimentel foram, sim, vítimas e, apesar do rosto "aparentemente igual" do repórter ao fazer a passagem sobre o assunto, ele não deve ser mais o mesmo desde o ocorrido.

Ele certamente não vai voltar mais lá. Se é que a Globo vai voltar. A equipe foi exposta, correu sérios riscos -- e não é defendendo ninguém, mas estamos cansados de saber que pessoas como os integrantes do Hezbollah não estào interessados em acreditar no que você diz, ou sequer ouvir. Não é à toa que tanta gente morre por lá.

Não estou por dentro destes acordos, mas, o que será que faz um jornalista aceitar um risco como este, de cobrir países que vivem praticamente em guerra? Amor pela profissão? Um gordo seguro de vida? O cinegrafista ainda foi mais ousado: trocou a fita para garantir que o VT ficasse pronto, e que a Globo não ficasse se a matéria da lanchonete. Operação de risco, já pensou se eles tivessem descoberto antes da equipe saír do Líbano?

Errata

Para esquentar o fato "sem-querer-ter-esquentado", a Globo divulgou uma nota de correção no Jornal Nacional deste sábado. Segundo eles, a iamgem de uma arma utilizada na matéria era ilustrativa, não sendo a que um dos integrantes do Hezbollah utilizou no sequestro dos jornalistas. A culpa seria de um editor de Londres (que vai levar uma chamada...!), por ter esquecido de identificar, no VT, que aquela imagem era de arquivo, apenas um exemplo da arma usada pelo grupo. Assista abaixo ao momento Falha Nossa:

sábado, 16 de agosto de 2008

Procurando pêlo em ovo

Descobri há alguns meses um site chamado Opinião e Notícia. O nome já diz tudo, né? E se não diz, este slogan tentará dizer: "Opinião Corajosa, Notícia Relevante". A proposta de reunir informação e opinião num site não é nova, e é uma coisa que poucos conseguem fazer bem.

Eu não visitava o ON há um bom tempo, e resolvi me relembrar dele. Mas particularmente, venho falar de uma seção deles que me ineressa bastante: a Nossa Mídia (imagem retirada da seção). É o Metalíngua na Imprensa deles -- tenho que puxar a rede pro meu lado... --, que está na editoria Mídia. Achei que acharia um igual, mas acabei descobrindo uma fonte.

A coluna é bem amadora. Tá, olha quem fala, mas assumo meu amadorismo num formato que já fala por si, o blog. Eles se impostam num site e fazem todo um discurso numa coluna geralmente gorda de críticas que fazem questão de ressaltar serem construtivas. Muitas sim -- a maioria se baseia em correção de erros de revisão textual, outros já partem para títulos e conteúdos de matérias.

Mantive minha opinião das primeiras visitas sobre a Nossa Mídia na última que fiz. O amadorismo que me refiro se coloca num texto bem raso e em críticas exageradas. Uma me chamou a atenção, dentro do intertítulo "Títulos Estapafúrdios":

"11/8, revista Época, pág. 15. A seção "Primeiro Plano", que tem como subtítulo "Fatos, pessoas, idéias e tendências que traduzem o espírito do tempo" dedica uma página inteira à maluquete profissional americana Paris Hilton, com foto dela seminua e o título: "Personagem da semana: Paris Hilton". Tudo isso porque os candidatos McCain e Obama andaram mencionando seu nome. Mas dizer que ela "...traduz o espírito do tempo" é um pouco demais."

Por favor, menos. Ou melhor, mais -- senso crítico sobre os fatos. É só reparar em como este mundo anda que dá pra ver que, pro bem ou pro mal, Paris Hilton traduz o espírito do tempo. Sua riqueza, futilidade e atenção que recebe da imprensa americana são uma conseqüência da importância que damos "às grandes coisas". Sua herança é gratuita, e sua personalidade não rende nada em seções que não de entretenimento e fococa.

O próprio uso de McCain, na sua campanha, da grande herdeira, já reforça isso. Cada vez mais queremos celebridades, e ela ganha atenção fazendo, literalmente, coisa nenhuma. E se tornou um modelo para muitas crianças e adolescentes da terra do Tio Sam. É, sim, uma personagem, e daquelas.

A impressão é que o Opinião e Mídia procura o que criticar nos jornais e meios de comunicação. Saiamos do literal um pouco, filtremos as nossas palavras sobre os outros, sejamos corajosos para falar o necessário, numa referência ao slogan do site. Sempre digo que é muito fácil criticar os jornalistas quando não se entende uma série de coisas, inclusive sobre o dia-a-dia da profissão. No caso da Nossa Mídia, eles não entenderam muito bem o conceito contemporâneo que atribuímos ao termo "celebridade".

Para curtir mais, confira o resto da coluna de 16 de agosto.

domingo, 10 de agosto de 2008

De volta das férias...

Pois é. Vocês devem ter percebido que, junto com as férias de julho, o blog também entrou em recesso. É que, apesar da suposta tranquilidade de férias universitárias, estes dias foram meio atípicos...

Pedidos de desculpas pela ausência à parte, estou de volta, junto com o novo semestre da UFBA! Você, internauta, terá, a partir de agosto, um blog com mais gás. Afinal, blog não é pra ficar parado!