sábado, 20 de dezembro de 2008

TV Bahia no país das maravilhas

Às cinco da manhã de hoje, mais uma chacina se somou aos tristes índices da violência em Salvador. O sexto crime deste tipo aconteceu em Brotas, e deixou quatro mortos e um ferido. Homens entraram em uma casa, reviraram o local e, depois, desferiram tiros na cabeça das vítimas que estavam lá. Ao que tudo indica, o crime foi causado por questões ligadas ao tráfico de drogas na região, só pra variar. Este ano, 25 pessoas morreram somente em chacinas em Salvador.

Mas, apesar de todos estes dados e cisrcunstâncias, uma parte da mídia baiana não deu a devida atenção ao fato. A TV Bahia, como sempre tem feito, apesar das caras e bocas de alguns apresentadores, esteve no país das maravilhas: em um sábado de sol que antecede o início do verão, abriu o Bahia Meio Dia com um vivo na praia, falando sobre verão, sol, mar e otite. Depois, mais matérias leves. A chacina só veio no terceiro bloco -- e como uma nota coberta. No BATV, também cobertura ínfima quando se havia tempo hábil de se fazer um vt.

Era a chance que a TV tinha de fazer uma matéria criticando a (in)segurança pública no estado, trazer números à tona, todos angustiantes. A violência este ano está bem maior que no ano passado, uma prova está na morte de policiais (36 até agora). Mas, seguindo uma tendência da Rede Globo, agravada pela direção local, de não se falar tanto do grotesco, optou-se por reduzir o fato, quse que dá-lo no jornal por obrigação.

O VT feito pela TV Band Bahia sobre a chacina abriu o jornal. O de rede, o Jornal da Band. A emissora fez um "Band Cidade Especial" com o governador Jaques Wagner. Durou o jornal todo... o que fica massante pra audiência, ao meu ver. Podia-se optar pelo equilíbrio, com ao menos uma nota ou vt do dia em cada bloco. Mas quem ligou a tv no 7 não pôde sequer ver uma nota do que aconteceu no dia. Ignora-se o factual; será que aqules quase 20 minutos de produção com o governador eram mesmo necessários?

domingo, 14 de dezembro de 2008

Recomendo: Blogs do Além

Estou devendo um "recomendo" que quero postar aqui há tempos. Quem lê a Carta Capital com frequência, ou folheou alguma nos últimos meses, já conheceu a coluna Blogs do Além, que estreou no número 500 da revista. Nela, o publicitário Vitor Knijnik, tenta imaginar como seriam as páginas pessoais de grandes nomes do passado.

A idéia é simplesmente genial, muito boa mesmo. Toda semana você tem um texto leve, de um personagem antigo mas com conteúdo bem contemporâneo, e sempre com humor. Entretenimento inteligente, por isso mando a dica. No site você tem acesso a todos os blogs que Vitor fez até hoje, com personalidades como Leonardo da Vinci, Che Guevara, Tim Maia, Machado de Assis e Pedro Álvares Cabral, o mais recente até a publicação deste post. Ou você pode comprar a revista, que também costuma valer a pena pelo conjunto da obra...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Divagações sobre a mídia

O texto abaixo é de autoria de Cláudio Lembo, advogado e professor universitário que foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador. As divagações foram publicadas na Folha de S. Paulo do dia 2 de dezembro. No conteúdo, verdades óbvias para uns e para outros nem tanto, outras já renovadas. Mas, ainda assim, verdades. Aqui, apenas uma ressalva: trocaria o termo "formadores da opinião pública" por "servidores da opinião pública". Acho que dizer que nós a formamos é nos colocar num patamar talvez mais alto do que devemos, a depender do sentido apreendido do termo.

Todas as profissões produzem desgastes emocionais. Os níveis podem ser diversos. Mas, a inevitabilidade do cansaço pelo diuturno dos atos profissionais é uma constante.

A previsão bíblica contém carga absoluta de certeza, quando aponta para o suor advindo do trabalho. Este não é apenas físico. Acima de tudo, ele se apresenta como psicológico.

Entre as profissões, como uma das mais desgastantes, coloca-se o jornalismo. A busca diária de notícias ou a elaboração cotidiana de opinião leva o profissional à excessiva sensibilidade.

Não pode errar. Deve sempre oferecer seu produto com clareza, perfeição e conteúdo veraz. O jornalista, em sua intermediação entre as fontes e a sociedade, torna-se fundamental agente de formação da opinião pública.

Sem jornalismo deixa de existir a possibilidade de a sociedade conhecer os atos de seus governantes e assim avaliá-los para decidir nos momentos eleitorais.

Sem jornalismo é inviável a possibilidade da existência de uma efetiva democracia. Jornalismo e democracia são partes inseparáveis de uma mesma visão do mundo: a democrática.

Esta cosmo visão possui como principal elemento a garantia da plena liberdade. Só a liberdade permite um jornalismo isento. A liberdade é, pois, a condição indispensável para uma verdadeira democracia.

As ponderações contêm verdades axiomáticas. Ou, em linguagem mais direta, verdades acacianas. Apontam o óbvio. No entanto, coisas conhecidas merecem sempre ser lembradas.

Particularmente, em momento em que os meios de comunicação se ampliam - especialmente pelo surgimento da internet - e formam-se conglomerados empresariais na área da informação.

As exigências econômicas levaram ao aparecimento das grandes grupos de mídia. Já não se cobre a aldeia natal. Agora, a cobertura estende-se à aldeia planetária. Os acontecimentos, em toda a parte, merecem cobertura.

Surge o primeiro risco. A concentração dos meios de comunicação já não permite pensamentos plurais. Ingressa-se no perigoso cenário do pensamento único.

Este pensamento único não possui os mesmos elementos do existente nos regimes totalitários. Nestes últimos desejava-se endeusar o líder. Transformar mero mortal em deus vivo.

Agora, deforma a toda a realidade. Apresenta apenas uma única versão do acontecido. A mais pragmática e de acordo com as vontades dos núcleos centrais do poder político ou econômico.

Aqui um paradoxismo. Chocam-se, por vezes, a opinião pública com as fontes jornalísticas. Ou seja, os formadores da opinião pública - os jornalistas - ficam em posição antagônica aos destinatários de suas mensagens.

A constatação não se suporta em meras reflexões subjetivas. É também obtida em determinadas amostras de opinião colhidas junto à sociedade. As respostas levam a perplexidade.

Em determinadas situações, ocorre relação de amor e ódio entre a sociedade e os formadores de sua opinião. Uma rejeição racionalmente inexplicável.

Apresenta-se como episódio freudiano. O destinatário sente fragilidade em sua condição de destinatário da informação. Considera-se diminuído perante quem parece tudo saber.

O jornal La Repubblica publicou em seu site o resultado de pesquisa de opinião realizada na Itália. Surpreendente o resultado. Os números geram inúmeras reflexões e maior número de ponderações.

A pesquisa foi produzida pela Universidade Estatal de Milão. Aponta: 68% dos italianos consideram seus jornalistas mentirosos. Outros 60% acham-nos incompetentes e para 52% dos mesmos italianos os seus jornalistas não são independentes.

Prosseguem os números colhidos: 64% dos entrevistados consideram os jornalistas italianos aéticos. Ainda 52% acham que os seus jornalistas não têm respeito pelos outros.

Paradoxalmente, há grande desejo de mais informações por parte da sociedade italiana, o que levará ao maior crescimento dos meios de comunicação não tradicionais, segundo o mesmo levantamento de opinião.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Jogo dos incontáveis erros

Coloco aqui uma matéria passada por uma colega minha, Juliana, por e-mail. O texto é um reflexo do que ainda se encontra na imprensa baiana -- mais precisamente, no nosso pior jornal local, o Tribuna da Bahia. Deus me livre de saber quem é a autora disso... Não estranhe se você ficar espantado. Veja se você consegue achar todos os erros, que não são poucos. É um ótimo passatempo. :-p

"Policial executado a tiros próximo de sua casa
Por Silvana Blesa
Sobe para 31 o número de policiais militares, vítima da violência que assusta a Capital baiana. Na noite de anteontem, o sargento da reserva Emídio Bispo de Jesus, de 57 anos, voltava para sua residência, após sair de uma faculdade onde cursava direito. O crime ocorreu a poucos metros da residência da vítima no bairro de Fazenda Coutos I, quando quatro homens ainda não identificados abordaram o sargento e além de assaltá-lo foi executado com um tiro nas axilas. Os acusados levaram do sargento, um celular, carteira com pertences, paletó que usava e uma maleta com os livros do curso. Em estado grave, o sargento ainda foi socorrido para o Hospital João Batista Caribe, mas morreu horas depois do atendimento.
Ontem pela manhã, os familiares do policial, acompanhado de amigos estavam no Instituto Médico Legal para liberar o corpo da vítima. Muito abalada, à esposa do sargento, identificada como Nadjara não teve condições de falar com a imprensa. Já o sobrinho do PM, Edízio Assis, mesmo com dificuldade devido ao choque da notícia do assassinato, fez questão de alertar que seu tio era um líder comunitário e lutava muito pelos direitos dos moradores do bairro. “Ele era muito querido na comunidade. Não tinham inimigos e estava fora da polícia. Ele pensava em seguir carreira como delegado, já que estava cursando faculdade de direito. Estamos todos abalados e esperamos que os poderes públicos tomem providências prendendo esses marginais”, disse o sobrinho do sargento.
Edízio ainda fez um desabafo em conseqüência da morte de seu tio: Se os próprios policiais estão sendo vítimas dessa violência e como fica o cidadão comum? A quem devemos apelar, se os que deveriam passar segurança para as pessoas estão sendo brutalmente assassinados? Só resta agora para a família a esperança que as autoridades não deixem em que esse crime caia no esquecimento, mas sim prenda os culpados.
O sargento estava na reserva da polícia, ele tinha mais de 20 anos de serviço e fazia trabalhos voltados para o bairro. Na noite do crime, Emídio tinha saído da faculdade onde estudava direito e seguia para sua residência localizada no Conjunto Recanto da Lagoa, bairro de Fazenda Coutos, quando foi abordado por homens armados. Por está bem vestido e carregando uma maleta, a polícia não descarta a possibilidade de assalto e o sargento reagiu a abordagem dos criminosos que efetuou quatro tiros, mas apenas um acabou acertando a axilas da vítima.
Outro fator que a polícia investiga é se os acusados perceberam que Emídio estava armado e deduziram ser policial e acabou o matando. Os agentes da Força Tarefa da Delegacia de Homicídio, bairro dos Barris, criada com exclusividade para investigar crimes de policiais, estão buscando informações para chegar aos assassinos. Mas as investigações são sigilosas e os agentes não podem passar nenhuma informação para a imprensa até que os criminosos sejam presos. O sargento Emídio, foi enterrado na tarde de ontem no Cemitério de Quinta dos Lázaros. Ele era casado e deixou um filho."

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Recomendo: série Violência no JN

Esta semana o Jornal Nacional apresenta a série Violência, que trata de mostrar porque, no nosso país, isto virou algo tão rotineiro, além de apresentar abordagens mais analíticas e profundas sobre o tema. No episódio de hoje, uma triste estatística: no Brasil, morre-se mais da violência do que no Iraque, da Guerra. A matéria também fala mais, e bem, sobre a violência no universo infantil.


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Olhos tortos

Há meses a fio ouvimos a mesma espécie de ladainha sobre a crise financeira global. Bum! Como lava de um vulcão, o resultado de décadas de capitalismo especulativo se derramaram em falências, quebras e fechamento de unidades financeiras diversas. E a erupção não tem fim.

O que começou nos Estados Unidos se converteu em um estonteante efeito dominó, que percorreu boa parte dos países do mundo causando diversas consequências para as suas economias. Todos eles tiveram um sintoma em comum: o estado de alerta máximo. Mas, equanto nos EUA as bolsas despencaram feito num tobogam; na Alemanha e em outros países europeus pacotes urgentes de auxílio foram anunciados, no Brasil várias empresas anunciaram férias coletivas de seus fucionários e bancos pediram ajuda. Um pouco de tudo em todos, uns sentindo menos, outros, mais.

Um e-mail que recebi me fez refletir sobre a cobertura acerca da quebradeira monetária mundial que, pelo menos aqui no Brasil, que ando assistindo, a imprensa está fazendo. Do ponto de vista econômico, nada mal. Os grandes jornais explicaram a origem do problema e estão, diariamente e em boa quantidade, se cuidando de reportar os efeitos em cada país -- de anúncios de falências de instituições a reduções nas taxas de juros e valoriza-desvaloriza do dólar. (Bons tempos em que dava pra viajar pra fora, com o dólar a R$1,50...).

Mas, como em boa parte de sua rotina, os grandes veículos esqueceram seu papel questionador. Jornalistas não simplesmente reportam e repetem os fatos; somos gatekeepers da realidade, e ela não pode simplesmente resvalar em nós -- sem nenhuma ofensa aos defensores da imparcialidade; a objetividade é um mito, e se trata aqui apenas de dizer que não podemos ser autistas diante dos fatos: somos servidores da esfera pública.

Ao se olvidar de sua função social, informações noticiadas como a de que o Japão vai oferecer sua reserva de de um trilhão de dólares para países em bancarrota passam batidas. Um trilhão de dólares, para ajudar a instituições e pessoas já com bastante dinheiro, e que quebram por abusar do mercado; por basearem sua situação financeira em especulações, literalmente.

E os jornalistas parecem comemorar a cada notícia de salvação. Agora, com que frequência ouvimos as mesmas nações se disporem a oferecer suas reservas para ao menos tentar diminuir o problema da miséria no mundo? Milhões de pessoas morrem todos os anos desta coisa tão primata e tão ignorada que é a fome. Fotos de crianças africanas moribundas percorreram o mundo, mas só o que fizeram foi ganhar prêmios de fotografias pela "beleza" que têm. Beleza... tsc. Todos os anos o Fórum Social Mundial é sediado em alguma parte do planeta, mas, por mais diversa que seja a geografia, todos os governantes têm a mesma postura: dar esmolas, se ao menos o fazem.

Não menosprezo o papel da economia; ela existe desde o princípio dos tempos, mesmo que nas mais rudimentares formas. Ela sustenta um país. Mas de que adianta tanto dinheiro, se mal empregado? A resposta temos aí, há meses, nos jornais.

Você já parou pra pensar em o que um trilhão de dólares poderia fazer pelas famílias dizimadas pela fome, Aids, doenças tropicais e pela guerra? Ou melhor: você consegue imaginar o que esta disposição para salvar a economia faria se fosse empregada no plano social? Infelizmente, nos dias de hoje, só o que podemos fazer é imaginar.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O troco

Ministério Público move ação contra Rede TV! pelo caso Eloá
Emissora transmitiu uma entrevista ao vivo com Lindemberg enquanto ele mantinha a ex-namorada refém

Solange Spigliatti, do estadao.com.br

SÃO PAULO - O Ministério Público Federal de São Paulo entrou com uma ação nesta segunda-feira, 1º, contra a Rede TV! por uma entrevista feita com a adolescente Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, e Lindemberg Alves, de 22 anos, e quer uma indenização de R$ 1,5 milhão para a sociedade por utilizar imagem da menor sem autorização judicial e transformar em espetáculo midiático o seqüestro da jovem. Eloá acabou assassinada pelo ex-namorado. Questionada, a emissora afirmou que ainda não foi informada da ação, mas que considera o ato uma "forma velada de censura".

A ação civil pública é por danos morais coletivos de R$ 1,5 milhão, equivalente a 1% do faturamento bruto anual da emissora, ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos. Durante o seqüestro, a emissora entrevistou a refém e o seqüestrador. A emissora também afirmou que assim que for notificada da ação vai se manifestar. No entanto, declarou que sempre vai defendar "a liberdade de expressão e o não cerceamento do jornalismo de informar os telespectadores".

Em entrevista ao estadao.com.br, a procuradora Adriana Fernandes, autora do pedido, afirmou que a liberdade de expressão não é absoluta e que, neste caso, deveria ter sido respeitado o fato de uma menor estar envolvida. "Na entrevista a repórter se colocou como intermediadora, colocando em risco de vida a menor e outras pessoas envolvidas na ação", disse.

O programa A Tarde é Sua, com apresentação de Sônia Abrão, exibiu duas entrevistas, uma ao vivo e outra gravada, com Eloá e Lindemberg, interferindo na atividade policial em curso e colocando a vida da adolescente e dos envolvidos na operação em risco, segundo MPF.

A procuradora também afirmou que, a partir do pedido, cabe ao poder Judiciário decidir se houve ou não abuso. Além disso, Adriana pediu à União a intimação de representantes da emissora, já que os serviços de rádio e televisão são concessões públicas.

Forma velada de censura? Não, não é velada. A Rede TV! está sendo explicitadamente censurada por ter feito algo extremamente indevido e desrespeitoso, tanto para com os "entrevistados", quanto para a família dos envolvidos e os telespectadores. A censura, aqui, atinge um outro nível. Paremos de remeter aos tempos da ditadura, como se só tivéssemos passado e nunca presente nem futuro. Não somos deuses. Às vezes precisamos, sim, de alguém que nos puxe pela gola da camisa.

Veja também:
Uma tragédia midiatizada
Uma tragédia midiatizada II
Alfinetada