quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Uma tragédia midiatizada II

Reportar o caso do sequestro de Eloá Pimentel e Nayara Rodrigues, em Santo André, ABC Paulista, na útima semana, é sinônimo de explorar um melodrama. Pelo menos para boa parte das empresas de comunicação. Normalmente o sentimentalismo fica mais para o lado dos canais abertos, enquanto os canais de TV fechada costumam ser lembrados por um melhor tratamento dos fatos; mas se isso fosse uma regra, como tal, haveria uma exceção.

No último dia 20 começou o velório de Eloá, morta após receber dois tiros disparados, segundo a imprensa, pelo ex-namorado e autor do sequestro, Lindemberg Alves. Como era de se esperar, em um caso de comoção nacional, o cemitério fica pequeno para tanta gente. Cerca de 30 mil pessoas passaram pelo Cemitério Municipal de Santo André, e a imprensa não fez pouco caso do fenômeno. Durante à noite, os telejornais fizeram diversas transmissões ao vivo de parentes, amigos, solidários e curiosos que, literalmente, passaram ao lado do caixão -- você apanharia de um segurança se ficasse mais de três segundos parado.

No dia seguinte a vigília midiática continuou e não ficou por menos. Pelo menos não para a Globo News. O canal SÓ transmitiu o fim do velório e sepultamento. Lá fui eu, de manhã, querendo saber o que acontecia no país e no mundo, para assistir um boletim do Em Cima da Hora. Mas que inocente eu fui: NADA MAIS acontecia, exceto a morte de Eloá. Foram não sei quantos minutos de diversas imagens do enterro ao vivo, com helicópteros sobrevoando o cemitério e câmeras próximas à sepultura registrando a emoção dos parentes e amigos da jovem.

Para completar, a repórter da Globo News, Ana Paula Campos, fez jus ao caso Eloá, ironicamente falando, e não deixou o sentimentalismo morrer. Despiu-se de sua veste de jornalista credível e pôs toda a emoção possível nos seus flashes ao vivo: falou da foto da menina na camisa, "com toda a sua beleza e juventude, relamente uma tragédia. Ah, claro. Como toda a imprensa parece ter questão de sublinhar, parece que a morte de um idoso / adulto nao teria o meso significado, a mesma dor, por mais que pertençam eles à mesma raça humana da adolescente. Muitos adjetivos cercaram a cobertura da repórter -- seria tensão de fazer um vivo sem muito roteiro?

Gancho sem ponta - No meio da cobertura, Ana Paula levanta a questão de um depoimento dado por um amigo de Lindemberg. Que ele era um bom garoto, mas que se desviou depois de ter acesso fácil a uma arma (como se o caráter de uma pessoa de formasse por seus instrumentos, não por suas escolhas). "É muito fácil ter acesso a ma arma aqui em São Paulo". E em como toda cobertura showrnalística, esquece-se o bom e o necessário. A Rede Globo passou por cima do depoimento e não questionou, em outra matéria ou em um debate ou entrevista em algum telejornal, por exemplo, como Lindemberg teve acesso à arma e porque/como um jovem consegue um revólver .32 assim que pensa em ter um.

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