quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Da variedade nasce o sórdido

A mídia impressa da Bahia, provinciana que (ainda) é, configura-se como um cenário que poderia ser muito mais rico para estudo. Isso se não fosse formada por apenas três jornais, dos quais um tem uma liderança considerável de vendagens; o segundo é filho recém-modernizado de uma família de políticos e outro é uma piada pronta em diversos aspectos, principalmente no quesito “o que falta para que estas páginas se tornem um bom jornal”.

Não sabia eu, mas a capital Rio de Janeiro é um terreno bem mais fértil. Também, o mercado da cidade tem o maior número de leitores, 20% da população segundo o IBGE. Sete jornais circulam diariamente nas bancas da cidade: Jornal do Brasil, O Globo, Extra, O Dia, O Povo, Expresso e Meia Hora. A maior variedade de publicações permite que sejam criados nichos de públicos, (Quality Paper, classes A/B; Populares, B/C e Compactos, C/D). Isto torna a análise muito mais interessante. Andando por uma rua do bairro do Flamengo, na Zona Sul, deparei-me com uma capa de jornal bem peculiar.

Minha primeira reação foi de espanto (“O que é isso aqui, moço??”, disse ao dono da banca); depois, riso. O jornalismo popularesco, que aqui na Bahia ganha forma em determinados programas de televisão como Se Liga Bocão e Que Venha o Povo, ganha forma também em mídia impressa no Rio. Era pra me espantar. Tal produto nunca vi por aqui – pelo menos não no meu tempo, vale ressaltar. Tinha que levar aquele jornal pra casa, era irresistível folheá-lo e falar a vocês do que vi... Metros depois, numa outra banca, descobri o concorrente do Expresso, o Meia Hora. Apresento-o:

Que capas são estas? Uma bagunça. Mas que tudo diz sobre o produto. A diagramação, uma primeira página bem poluída, cheia de informações. Excesso? Depende do referencial. Para mim, que estou acostumada ao visual clean dos jornais da terrinha, é tudo um verdadeiro caruru. Se bem que tá mais pra feijoada carioca. O segmento C/D quer isso, muita coisa pra digerir, muita cor e manchetes para chamarem a atenção.

E para bom entendedor, poucas palavras bastam. Os signos lingüísticos das capas do Expresso e do Meia Hora são riquíssimos. Em texto e imagem, a tríade sangue, sexo e futebol. Tudo em uma linguagem que chegue em cheio no público-alvo: falando como ele fala. Gírias como “poliçada” e “caô”, num popularesco carioquês, além de expressões poucos usuais em estilos menos populares de jornalismo, como “sacode”, “coitada” e “foi em cana”.

Metáfora Seletiva
Quando o Correio* decidiu se comparar a outros jornais para explicar seu novo formato (berliner e com notícias curtas), adotado em agosto deste ano, citou grandes jornais da Europa. Decisão claramente estratégica, for sure. Esqueceu-se que exemplos bem menos notórios e daqui do país já tinham como política editorial notícias mais rápidas e resumidas e o uso constante de notas e muitas imagens. Apesar de estarem em tablóide, o Expresso e o Meia Hora têm a mesma regra. Em uma pagina, duas, três ou até mais notícias diferentes – não dá pra ser mais por causa da espantosa quantidade de anúncios, que sustentam a venda dos exemplares a 50 centavos cada. Boxes trazem tanto pequenos adendos às notícias principais quanto outros fatos da mesma editoria. Os textos não passam de quatro parágrafos e quando o fazem, é porque todos estão muito curtos.

Marinho é o Rei
Em terra cariocas, não tem jeito: as publicações Globo dominam o mercado. No segmento Quality Paper (A/B), o jornal O Globo dá uma surra o Jornal do Brasil por um placar humilhante de 1,7 milhão de leitores versus 304 mil. No grupo dos Populares, o Extra (3,2 mi) bate o O Dia (1,9 mi). Não consegui números que comparem o Expresso ao Meia Hora; para quem não percebeu pela capa, o global é o primeiro. São duas citações de produtos da Rede Globo; a Globeleza e o Domingão do Faustão. Na página 2, três quadros dão um ar de versatilidade ao jornal, chamando o leitor para o conteúdo de outras mídias: “Deu na Rádio Globo”, “Deu no Jornal Nacional” e “Deu na Internet” -- que certamente poderia se chamar “deu no G1” e não faria diferença.

domingo, 2 de novembro de 2008

Retrato da violência

Por Rodrigo Minêu