sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A palavra do presidente

Foi mesmo A SENSAÇÃO do dia, conforme ele mesmo previra. O nosso presidente Lula, mas uma vez, se empolga em um discurso pelo país e usa a sua linguagem própria, jeito de falar sumariamente brasileiro e tão longe do convencional "presidenciês", para dizer o que o povo gosta. Anunciando a construção de casas pelo programa Minha Casa, Minha Vida, o presidente diz que quer saber "se o povo está na merda, porque ele vai tirar o povo da merda..." -- com sua licença, espectador, a palavra foi reproduzida numa tentativa de não se alterar a apreensão do discurso.

Logo em seguida, ele tratou de emendar que já sabia que os jornalistas e colunistas de todos os grances jornais iam cair em cima dele porque ele falou "merda" na televisão.  Ele deve ter imaginado, também, mesmo sem verbalizá-lo, que seria alvo, inclusive, de muitas piadas -- no mínimo, a clichê "o presidente falou merda no discurso, qual é a novidade?". Para diminuir o impacto, Lula disse que sabia que os jornalistas falam mais palavrão que ele todo dia. Ele estava certo: meus colegas de profissão foram pra cima feito urubu em carniça, mas também estavam certos.

Presidente, há um fundo de verdade no argumento que você escolheu para eufemizar o impacto de seu "palavrão". (eu, particularmente, não acho que "m..." seja palavrão, por isso as aspas; uso esta expressão aqui por não achar um termo melhor). Jornalistas, economistas, ministros, políticos, garis, advogados e boa parte da torcida do Flamengo usam, sim, muitos palavrões no seu dia-a-dia. Aliás, nós, jornalistas, falamos muitas palavras de baixo calão, mesmo porque, às vezes, para extravasar as muitas intempéries típicas da nossa profissão, palavras regulares não são suficientes.

Mas seu argumento está errado, Lula. Nossas "merdas", "f...as", "p... q... p...", "c..." e afins não são publicadas, veiculadas em rádio ou tv, ditas ao Deus dará para todo mundo ouvir. Nossa profissão não o permite. Esbarramo-nos nos limites de nossa deontologia e da moral, mesmo, por mais brega que esta palavra possa soar. (mas este é um post sobre palavras incorretas, mesmo...) Falar o que o povo quer ouvir, tentar exprimir 'revolta sincera' não justifica, literalmente, que você fale "merda". Outras expressões fortes poderiam representar o que você queria dizer. E, como representante máximo do Executivo, você deveria ter pensado nisso antes.

Mas, convenhamos, não é novidade nenhuma um político falar e/ou agir antes de pensar. Nosso país está na "m..." que está por causa disso.

Repórter entrevista mudo

O que se produz nas emissoras de TV deste Brasil às vezes é inacreditável... Ai, se as equipes de Bocão e Que Venha o Povo assistem a uma coisa dessas...