domingo, 30 de março de 2008

Confira na GI: coluna de março de 2008

Já está no ar desde a sexta-feira 28 a edição de março da Coluna Metalíngua na Imprensa. Neste número, você confere um comentário sobre a recente polêmica entre a Rede Globo e a Record. Há poucas semanas, no dia 12 de março, uma cena da novela Duas Caras em que personagens evangélicos lincham três moradores da favela da Portelinha inflamou o humor de Edir Macedo, bispo da Igreja Universal e dono do Rede Record de Comunicação. Ele respondeu através de uma "reportagem" no Domingo Espetacular do domingo seguinte, acusando a emissora de preconceito contra a doutrina. Confira um trecho da coluna, que foi ao ar no espaço Colunistas da Grande Imprensa.

"Quem vê a mensagem (neste caso, a cena do linchamento) emitida por algo ou alguém, a interpreta de acordo com sua subjetividade. E seus interesses. E foi para preservar seus interesses pessoais e corporativos de defender seu credo e atacar a concorrência, que Edir Macedo viu o que lhe cabia. A novela é preconceituosa e coloca os evangélicos como fanáticos e ponto final. Uma cena falou a eles mais do que uma novela inteira, e isso lhes bastou para o ataque. Mas eles não viram o personagem Ezequiel, que passa todos os dias na novela. Também evangélico, ele é um homem de bom caráter, solidário, que ora por todos e é contra o mal. "

Confira aqui a coluna na íntegra

segunda-feira, 24 de março de 2008

Cresce coronelismo na comunicação

Depois dos 300 de Esparta, os quase 300 do Brasil: o coronelismo na comunicação brasileira cresceu e, hoje, 271 políticos são sócios ou diretores de emissoras de rádio e televisão no país. A informação foi publicada no último dia 21, no Observatório do Direito à Comunicação.

A matéria destaca o caráter anti-democrático do fato e traz dados importantes que foram apurados pelo Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação. Lá você pode saber, por exemplo, quantos, deste total de 271 políticos, são prefeitos, senadores e deputados. Veja, também, os partidos destes políticos. Confira a matéria aqui.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Ela se salva

Saiu no Observatório de Imprensa a transcrição de um comentário feito por Luciano Martins Costa para o programa radiofônico do OI. Neste texto, ele faz uma sábia crítica à revista mensal piauí, que tem pouco menos de dois anos no mercado trazendo originalidade para as bancas. A publicação se destaca e se salva diante das outras que tanto estamos acostumadas a ver e ler por aí, fazendo uma mistura muto boa de literatura e jornalismo.

Na crítica, ele faz um bom review dos tempos (que não conheci) em que os grandes jornais do país ofereciam grandes coisas. Fala de seu público restrito, de sua inteligência louvável, mas às vezes meio difícil de entender -- "piauí foi concebida nos salões dos bem-nascidos". Um equilíbrio bom. Vale a pena conferir.

O autismo na saúde

O estado do Rio de Janeiro está sucumbindo à ação do mosquito Aedes Aegipty. Só neste ano, em menos de três meses, quase 24 mil pessoas tiveram dengue no estado; 49 mortes foram confirmadas até a manhã desta sexta-feira (21), sendo 31 na cidade maravilhosa (o 31º caso foi confirmado na tarde de hoje). Com tais números (e estes são só alguns), é impossível não se chamar a atenção. Veja matéria do Jornal Hoje desta sexta sobre a dengue no Rio:



Diante disso, o secretário de Saúde do Rio, Sérgio Cortês, admitiu o caráter epidêmico da doença no estado, e a declaração explodiu em todos os meios de comunicação na quinta-feira (20). “Estou tratando como uma epidemia porque o número de casos é extremamente elevado. Nós temos que entender que a nominação não é importante”, afirmou ele ao Jornal O Globo. Já o autista da vez é o prefeito do Rio, César Maia, que tenta negar a gravidade da situação e insiste em dizer que o índice da doença está diminuindo. Ele se baseia numa curva de infestação cujo pico ocorreu entre janeiro e fevereiro, e que agora estaria em declínio. Se é declínio o que estamos vendo na imprensa, imagine o que seria o pico – e vale lembrar que, neste período, a dengue no Rio não recebeu tanta atenção com agora.

A Folha On-line praticamente não divulgou notas sobre a alegação do prefeito; preferiu polemizar e enfatizar a resposta dele às críticas do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que responsabilizou a prefeitura pelo alto índice da dengue no estado. E enquanto os dois se pegam neste bate-e-rebate, o mosquito voa solto. Cortês não se mete no assunto e sai por aí divulgando as ações do governo estadual para tentar coibir a doença, ações estas que ganharam mais destaque que o necessário no G1.

Quem saiu bem no caso foi o Estadão: enquanto um alega que há epidemia, outro, surto e ainda outros, que não há nada (há quem diga!), o jornal afirmou a primeira hipótese, mas embasou sua escolha com dados do Ministério da Saúde – e ainda alfinetou César Maia. Confira aqui.

O autismo na economia

No início da semana, um “episódio” envolvendo um representante do governo na área da Economia recebeu atenção da mídia pela importância da declaração dele. O caso ME chamou a atenção por revelar o lado autista de seu interlocutor.

O fato dizia respeito aos efeitos que a crise financeira “internacional dos Estados Unidos” poderia causar no Brasil. O bicho ta pegando do lado de lá, com uma série de quedas nas bolsas americanas e, por conseqüência, de boa parte dos outros países. O banco Bear Stearns quase foi à falência – e teve que ser vendido --, o dólar está se desvalorizando no mercado, enfim, a economia vai mal e ameaça seriamente o império do país dono do mundo e o resto do mundo.

Saiu no Jornal do SBT (onde vi a notícia) e em todos os outros veículos jornalísticos: o ministro da Fazenda, Guido Mantega (foto ao lado, de Rodrigo Paiva), jogou o barro para o seu lado e disse que, para nós brasileiros, a coisa não vai ficar tão feia. Em Brasília, no dia 17, ele admitiu o caráter grave da situação lá fora, mas afirmou que o Brasil está preparado para enfrentar a crise que afeta a maior economia do mundo. Segundo ele, “o Brasil está sólido e nunca esteve tão preparado”, com um bom valor de reservas e um crescimento da confiança internacional na economia brasileira.

O problema não está na economia daqui, quer dizer, deve-se admitir que estamos relativamente bem, obrigada. O problema é mais acima: se os Estados Unidos não estão sólidos, o baque pode ser grande em países em desenvolvimento como o Brasil. Os especialistas dizem que o Brasil deve ser mais afetado na exportação de commodities, já que a importação dele deve ficar menos atrativa, como afirmou a colunista de Economia Miriam Leitão no Bom Dia Brasil do dia 18.


A única arma do governo até agora parece ser apenas a declaração de Mantega (nada mais do que o papel dele, acalmar os ânimos e ressaltar os pontos positivos da economia brasileira), já que nenhum plano para absorver os impactos de lá foi divulgado. Leia mais sobre a afirmação de Mantega e a crise no Jornal Nacional, na Folha de S. Paulo On-line e no Estadão. Os veículos trataram o fato mais ou menos da mesma forma, dando ênfase ao caráter alarmante da crise. Tutty Vasques é que foi mais criativo.

sábado, 15 de março de 2008

Novos pecados e a velha mídia


Na segunda-feira (10), os sites e telejornais deram destaque a uma notícia que daria o que falar. No dia anterior, 9, foi publicado no L'Osservatore Romano (site em italiano) (publicação oficial do Vaticano) que o papa Bento XVI havia instituído novos pecados capitais. A justificativa para atualização da lista estaria no contexto global atual, que daria origem aos assim chamados por ele de “pecados sociais”.

Eu soube do fato através do Estadão e fiquei surpresa. O que me deixou boquiaberta foi um dos novos pecados. Veja que estratégia barata de convencimento: agora, segundo o catolicismo, manipulações genéticas – e isso, é claro, inclui os experimentos com células embrionárias – agora rendem uma vaga no inferno para quem fizer e não pedir perdão. (Calma, eu não estou sendo radical: não foi o próprio papa que disse que “o inferno existe”?) Considerar estes experimentos um pecado nada mais me parece do que uma tentativa mandatória e patética de proibir os católicos de concordarem com as pesquisas com células-tronco.

Além desse, como consta na lista da Santa Sé, o uso de drogas, a desigualdade social e a poluição ambiental estão entre os novos pecados capitais. O Vaticano atualizou a lista de pecados por causa da "realidade da globalização". A justificativa até que faz certo sentido. O que me chamou a atenção nisso tudo é a imprecisão acerca do assunto. Nenhuma matéria especificou quantos são os novos pecados, porque os tópicos são mais vagos e abertos. A maioria cita os quatro que eu disse anteriormente, mas acaba incluindo outros na lista. O próprio Estadão colocou sete novas infrações na sua tabela (veja a matéria aqui).

De um modo geral a cobertura deste fato foi pequena: muitos jornais televisivos deram simples notas sobre o assunto. Só o SBT Brasil teria feito uma matéria (se eu estiver errada, atualize este post fazendo um comentário). Tal mudança, por mais que os católicos estejam diminuindo no mundo, merece destaque, mas pouco se viu sobre o tema na TV. Já os sites publicaram o quanto souberam sobre a nova lista – e a maior capacidade de publicação e armazenamento deste suporte ajuda. O G1, inclusive, pôs no ar uma nota da repercussão da decisão de Bento XVI entre os Ortodoxos Russos. Eles ainda resistem em seguir o exemplo da Igreja Católica.

Para saber mais sobre os novos pecados, consulte o site do L'Osservatore Romano em italiano e em português.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Desdizendo o dizer

Na semana passada, no dia 29.02, os grandes telejornais repercutiram as declarações do presidente Lula sobre a ação e, principalmente, intromissão dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário sobre os problemas do país. Me chamou a atenção a forma que o Jornal Nacional escolheu para chamar a atenção para o fato. No início do jornal, a escalada anunciava os destaques da edição, já afirmando que Lula causara polêmica ao comentar que “Seria tão bom se o Poder Judiciário metesse o nariz apenas nas coisas deles”. Logo depois, uma chamada para a repercussão do ministro Marco Aurélio Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Até aí, menos mal, né? Mas, quando você assiste a matéria (ou lê), percebe uma lacuna entre o seu conteúdo e a chamada. Lula, ao contrário do que a chamada me fez pensar (e provavelmente, você também), não criticou somente o Judiciário.



Na sua fala, ele critica o que seria um “hábito” entre os Três Poderes de um se meter nas questões que dizem respeito aos outros. O detalhe, é que o presidente criticou, inclusive, a si.
- “Seria tão bom se o Poder Judiciário metesse o nariz apenas nas coisas deles, o Legislativo apenas nas coisas dele e o Executivo apenas nas coisas deles. Nós iríamos criar a harmonia que está prevista na Constituição”.

O JN trata o discurso como mais uma das célebres e polêmicas frases de nosso presidente, frase esta que teria até aberto a possibilidade de uma crise entre os três poderes. Não que ela não seja polêmica. Mas a abordagem utilizada frustra as expectativas do espectador: quem se prende à chamada, acha que ele cutucou apenas o Judiciário, mas o espectador atento percebe que Lula fez uma crítica generalizada.

A matéria se tornou engraçada depois, quando Lula comenta a repercussão (negativa) de sua tirada. Ele afirma que todos têm o direito de dar “pitacos”.

- “Da mesma forma que como ser humano e brasileiro as pessoas dão palpite sobre as coisas, o presidente da República pode dar palpite e julgar o palpite dos outros. Afinal de contas, aí está um debate político”.

Ele acabara de entrar em contradição – e com o bom humor que não o acompanhou na hora da alfinetada primeira. Acho que o aspecto interessante do comentário do presidente, e que mais valia ser explorado, veio justamente aí. Todos têm o direito de dar pitacos (inclusive e principalmente ele), mas um não pode falar do outro? Ih, Lula, cadê a coerência? Uns me diriam que esta há muito tempo lhe falta, mas este blog não abarca esta questão.

A edição da chamada foi bem-sucedida porque foi atraente, mas foi atraente por um demérito. A retirada de parte da frase a deslocou de seu contexto e alterou o seu significado. O resultado? Algo comum na imprensa, infelizmente: o espectador pensa que a fonte disse uma coisa quando, em verdade, disse outra.

sábado, 1 de março de 2008

Confira na GI: coluna de fevereiro/08

Já está no ar a Coluna Metalíngua na Imprensa de fevereiro. Nesta edição, eu falo sobre a suspensão de 20 dos 77 artigos da Lei de Imprensa, determinada pelo STF nesta semana. A lei foi criada na década de 60 e aborda tópicos como a censura e punições para jornalistas que produzam conteúdos indesejáveis e polêmicos. Confira, abaixo, um trecho da coluna, que foi ao ar no espaço Colunistas da Grande Imprensa.

"Tudo no Brasil chega atrasado, inclusive as leis - que, muitas vezes, nem chegam. Pensar que, até o final de fevereiro de 2008 ainda era possível apreender, rasgar e queimar jornais que “atentassem contra a moral”, parece até que se força a barra. E metade dos veículos não estaria nas bancas e nem seriam veiculados na TV ou rádio... Para quem mora aqui em Salvador, sabe que o Se Liga, Bocão (um Balanço Geral de seu estado bem piorado, a meu ver) é um ótimo exemplo disso."