sexta-feira, 7 de março de 2008

Desdizendo o dizer

Na semana passada, no dia 29.02, os grandes telejornais repercutiram as declarações do presidente Lula sobre a ação e, principalmente, intromissão dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário sobre os problemas do país. Me chamou a atenção a forma que o Jornal Nacional escolheu para chamar a atenção para o fato. No início do jornal, a escalada anunciava os destaques da edição, já afirmando que Lula causara polêmica ao comentar que “Seria tão bom se o Poder Judiciário metesse o nariz apenas nas coisas deles”. Logo depois, uma chamada para a repercussão do ministro Marco Aurélio Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Até aí, menos mal, né? Mas, quando você assiste a matéria (ou lê), percebe uma lacuna entre o seu conteúdo e a chamada. Lula, ao contrário do que a chamada me fez pensar (e provavelmente, você também), não criticou somente o Judiciário.



Na sua fala, ele critica o que seria um “hábito” entre os Três Poderes de um se meter nas questões que dizem respeito aos outros. O detalhe, é que o presidente criticou, inclusive, a si.
- “Seria tão bom se o Poder Judiciário metesse o nariz apenas nas coisas deles, o Legislativo apenas nas coisas dele e o Executivo apenas nas coisas deles. Nós iríamos criar a harmonia que está prevista na Constituição”.

O JN trata o discurso como mais uma das célebres e polêmicas frases de nosso presidente, frase esta que teria até aberto a possibilidade de uma crise entre os três poderes. Não que ela não seja polêmica. Mas a abordagem utilizada frustra as expectativas do espectador: quem se prende à chamada, acha que ele cutucou apenas o Judiciário, mas o espectador atento percebe que Lula fez uma crítica generalizada.

A matéria se tornou engraçada depois, quando Lula comenta a repercussão (negativa) de sua tirada. Ele afirma que todos têm o direito de dar “pitacos”.

- “Da mesma forma que como ser humano e brasileiro as pessoas dão palpite sobre as coisas, o presidente da República pode dar palpite e julgar o palpite dos outros. Afinal de contas, aí está um debate político”.

Ele acabara de entrar em contradição – e com o bom humor que não o acompanhou na hora da alfinetada primeira. Acho que o aspecto interessante do comentário do presidente, e que mais valia ser explorado, veio justamente aí. Todos têm o direito de dar pitacos (inclusive e principalmente ele), mas um não pode falar do outro? Ih, Lula, cadê a coerência? Uns me diriam que esta há muito tempo lhe falta, mas este blog não abarca esta questão.

A edição da chamada foi bem-sucedida porque foi atraente, mas foi atraente por um demérito. A retirada de parte da frase a deslocou de seu contexto e alterou o seu significado. O resultado? Algo comum na imprensa, infelizmente: o espectador pensa que a fonte disse uma coisa quando, em verdade, disse outra.

2 comentários:

  1. Vim marcar presença! Por enquanto li apensa o primeiro texto. Não vi essa matéria no Jornal Nacional (aliás, n vi muuuitas matérias!!shame on me!), mas é mais um exemplo desse tão falado, batido, mas nem por isso desgastado, poder de manipulação, né?
    BLEH!
    Curti, Guete!

    BJAUMSAUM

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  2. putz, o pior de tudo foi o "SEGUNDO O GOVERNO..." se fosse escrito, isso estaria em caixa alta, sublinhado, negrito, itálico e com letras coloridas...

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