quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Alfinetada

Bom foi ver o comandante Eduardo José Félix, da Polícia de Choque, dando entrevista pra imprensa no último dia 21. Aliás, a matéria do Jornal Nacional sobre as dúvidas do sequestro é que trouxe declarações interessantes dele e de um comandante do Gate, Grupo de Ações Táticas Especiais. Duas delas, sobre uma mesma pergunta, me chamaram a atenção. Leia a transcrição:

"Outra questão: por que a polícia não usou um atirador de elite para atingir Lindemberg? “Se nós tivéssemos atingido com um tiro de comprometimento o Lindemberg, fatalmente os senhores hoje estariam questionando o Gate: por que não negociaram mais? Por que deram um tiro de comprometimento num jovem de 22 anos numa crise amorosa, que estava, num determinado momento da sua vida, fazendo algo que ele poderia se arrepender pelo resto da vida?”, disse o comandante Eduardo José Félix. “Faltou oportunidade. Ninguém tem a melhor visão que os policiais lá. Faltou oportunidade porque tinham obstáculos que poderiam desviar o projétil. Um deles era o próprio Lindemberg. O projétil o atingindo e transfixando é desviado”, explicou Adriano Giovaninni."

Ou seja, por responsabilidade. Não quero aqui defender a polícia, mas falar de unma mania terrível dos meios de comunicação de ignorarem seus próprios defeitos. A grande mídia quer, sim, criticar, questionar, e é este seu papel, certo? Quando há fundamento e construtividade, sim. Mas o comandante estava certo: as emissoras fariam o maior drama dos policiais que se adiantaram, não deram chace ao rapas e lhe desferiram um tiro no meio da testa, usando como desculpa (sic) preservar a vida das sequestradas. O pessoal dos Direitos Humanos, então... uma inflamação só. E o Gate seria bombardeado, desculpe o trocadilho, se a bala atingisse Eloá. Eles optaram por negociar, e o erro não foi esperar, mas, ao que tudo indica, uma ação mal planejada de invasão ao apartamento.

Confira a matéria em vídeo:

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Uma tragédia midiatizada II

Reportar o caso do sequestro de Eloá Pimentel e Nayara Rodrigues, em Santo André, ABC Paulista, na útima semana, é sinônimo de explorar um melodrama. Pelo menos para boa parte das empresas de comunicação. Normalmente o sentimentalismo fica mais para o lado dos canais abertos, enquanto os canais de TV fechada costumam ser lembrados por um melhor tratamento dos fatos; mas se isso fosse uma regra, como tal, haveria uma exceção.

No último dia 20 começou o velório de Eloá, morta após receber dois tiros disparados, segundo a imprensa, pelo ex-namorado e autor do sequestro, Lindemberg Alves. Como era de se esperar, em um caso de comoção nacional, o cemitério fica pequeno para tanta gente. Cerca de 30 mil pessoas passaram pelo Cemitério Municipal de Santo André, e a imprensa não fez pouco caso do fenômeno. Durante à noite, os telejornais fizeram diversas transmissões ao vivo de parentes, amigos, solidários e curiosos que, literalmente, passaram ao lado do caixão -- você apanharia de um segurança se ficasse mais de três segundos parado.

No dia seguinte a vigília midiática continuou e não ficou por menos. Pelo menos não para a Globo News. O canal SÓ transmitiu o fim do velório e sepultamento. Lá fui eu, de manhã, querendo saber o que acontecia no país e no mundo, para assistir um boletim do Em Cima da Hora. Mas que inocente eu fui: NADA MAIS acontecia, exceto a morte de Eloá. Foram não sei quantos minutos de diversas imagens do enterro ao vivo, com helicópteros sobrevoando o cemitério e câmeras próximas à sepultura registrando a emoção dos parentes e amigos da jovem.

Para completar, a repórter da Globo News, Ana Paula Campos, fez jus ao caso Eloá, ironicamente falando, e não deixou o sentimentalismo morrer. Despiu-se de sua veste de jornalista credível e pôs toda a emoção possível nos seus flashes ao vivo: falou da foto da menina na camisa, "com toda a sua beleza e juventude, relamente uma tragédia. Ah, claro. Como toda a imprensa parece ter questão de sublinhar, parece que a morte de um idoso / adulto nao teria o meso significado, a mesma dor, por mais que pertençam eles à mesma raça humana da adolescente. Muitos adjetivos cercaram a cobertura da repórter -- seria tensão de fazer um vivo sem muito roteiro?

Gancho sem ponta - No meio da cobertura, Ana Paula levanta a questão de um depoimento dado por um amigo de Lindemberg. Que ele era um bom garoto, mas que se desviou depois de ter acesso fácil a uma arma (como se o caráter de uma pessoa de formasse por seus instrumentos, não por suas escolhas). "É muito fácil ter acesso a ma arma aqui em São Paulo". E em como toda cobertura showrnalística, esquece-se o bom e o necessário. A Rede Globo passou por cima do depoimento e não questionou, em outra matéria ou em um debate ou entrevista em algum telejornal, por exemplo, como Lindemberg teve acesso à arma e porque/como um jovem consegue um revólver .32 assim que pensa em ter um.

domingo, 19 de outubro de 2008

Uma tragédia midiatizada

Há tempos a mídia precisava de um melodrama para sustentar a sua audiência. O fim do caso Isabela, com seu já previsto esquecimento, fez com que entrássemos em um estado latente de espera pelo próxima novela jornalística "espreme-que-sai-sangue-e-lágrima". Não podíamos ficar muito tempo... não deu outra: na tarde do último dia 13, a imprensa paulista achou sua menina-dos-olhos: o sequestro no ABC. O jovem Lindemberg Alves, de 22 anos, entrara no apartamento da ex-namorada Eloá Pimentel, 15, que estava com colegas de escola, para sequestrá-la junto com a melhor amiga.

O motivo seria puramente passional. Ele não aceitava o fim do namoro que durou 2 anos e 7 meses. Ciumento, manteve com a jovem sete anos mais nova que ele um relacionamento um pouco instável, que teria culminado com a negativa definitiva da menina não fosse o rombo que a decepção amorosa causou no coração do rapaz. Armado e decidido a que "ouvissem falar dele", ficou no apartamento por mais de cem horas, num sequestro que demorou mais de quatro dias e mobilizou um enorme contingente de policiais... e jornalistas.

No último dia 17, a tragédia tanto citada em expressão por eles: no meio de uma tentativa pateta de invasão por policiais do apartamento, Eloá foi alvo de dois tiros na cabeça e virilha que lhe custaram a vida. Nayara, a amiga, levou um tiro na boca e não corre risco de morrer.

O que fica disto, no que e compete a este blog, é o tratamento que a imprensa deu ao crime. Transformou Lindemberg em uma estrela, ao acompanhar cada suspiro seu e querer noticiá-lo. Não só imagens: ele conversou com jornalistas ao vivo -- Sônia Abraão, na Rede TV!. Ganhou magnitude nas coberturas das TVs Record e Globo. Ficara famoso, e agora dizia às vítimas que mantinha sob uma arma: sou o rei do gueto, o cara. Transmitimos nosa irresponsabilidade a ele.

Não, Lindemberg. Você se tornou o rei de tdo o país no trono da Imprensa. Você em si não foi endeusado, mas sua presença nos telejornais foi supervalorizada, considerada essencial para manter a audiência. Negociações, ameaças, gestos: tudo interessava dentro daquele sequestro. Inlusive, repetindo a formula aplicada no Caso Isabela, matérias sentimentais sobre a vida de Eloá, colocando-a como uma vítima boa e inocente do cruel ex-namorado. A mesma matéria que construía o obtuário da menina Isabela como se todos nós já a tivéssemos conhecido, e precisássemos rever sua vida do ponto de vista mais algodão-doce possível. Não se trata aqui de endeusar Eloá e endiabrar Lidemberg, mas de não pré-julgá-los e usarmos sua história, para o bem ou para o mal.

O SBT, surpreendentemente, optou por uma cobertura séria: sem entrevistas por telefone, sem exageros, sem acompanhamento full-time ao estilo Datena -- acabou-se pedofilia: as edições do Brasil Urgente desta semana foram sequestro puro. A exceção se deve, claro, ao episódio-de-deixar-qualquer-um-estupefato do confronto entre policiais na cidade de São Paulo na última quinta-feira (16).

Mais uma vez, um crime vira novela e show. Quanto mais vai se sugar até o completo esquecimento? Mas nós gostamos... Sem nem a conhecermos, enchemos o perfil da jovem no Orkut com recados de amor e saudades (?), além de criar/entrar em comunidades de luto. Um ciclo sem fim, como já disse sobre cassos asim anteriormente.

Quantas Eloás, Lindembergs e Nayaras não morrem todos os dias sem que a mídia lhes dedique sequer uma nota seca de vinte segundos? Não defendo a pulicação de tudo, o que é humanamente impossível. Mas, sim, o equilíbrio e sobriedade que necessitamos para enfrentar dias assim.

domingo, 12 de outubro de 2008

Um passo

Brasília sedia terceira audiência pública sobre regulamentação da profissão de jornalista
* Do Ministério do Trabalho e Emprego


Foi realizada na manhã do último dia 9, em Brasilia, mais uma audiência do Grupo de Estudos Tripartite criado para discutir a regulamentação da profissão de jornalista. A pedido do ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, o Grupo tem percorrido as cinco regiões do país a fim de ouvir as partes envolvidas para que se possa chegar a um acordo sobre a regulamentação, proporcionando, também, um amplo debate entre os representantes do segmento e a sociedade civil.

"A regulamentação precisa ser feita da melhor maneira possivel. A gente torce para que se consiga construir um Projeto de Lei que atenda não apenas a jornalistas, mas toda a sociedade brasileira", disse o presidente do Sindicato dos Jornalistas do DF, Romário Schettino, um dos participantes da mesa de discussão.

O evento contou com profissionais da área e de representantes do Ministério do Trabalho e Emprego, Fenaj e OAB.

Registro - A primeira reunião do Grupo de Estudos aconteceu em Recife, na sede da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Pernambuco, com duas palestras que nortearam as discussões em torno da regulamentação da profissão de jornalistas.
Depois, foi a vez de Porto Alegre sediar a segunda audiência pública, também realizada na sede da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul. Mais de 50 profisssionais da área marcaram presença no evento.

Grupo - O Grupo de Estudos foi criado com objetivo de propor alterações na legislação em vigor a fim de viabilizar a regulamentação da profissão. Ele foi instituido por meio da portaria nº 342, publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 23 de julho de 2008, e dizia que o Grupo de Estudos seria composto por três representantes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), das categorias profissionais e das categorias econômicas (empresas de jornalismo).
No dia 13 de agosto, a a portaria 510/08, do DOU, trouxe publicada os nomes dos representantes encarregados de propor alterações na legislação em vigor.

Para o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, o grupo criado será o "melhor caminho" para chegar a regulamentação da profissão.

Próximas reuniões - Também estão programadas audiências em Belém, Rio de Janeiro e São Paulo até o final do mês.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

As liberdades e a expressão

A Rádio Metrópole, aqui em Salvador, é um caso peculiar dentro da programação baiana -- e todos os sentidos do termo. Ela já teve diversos perfis, pertencendo a diversos grupos, mas se estabilizou num quadro singular. Sua programação é musical somente das 23h às 6h do dia seguinte; o resto da grade é composta por diversos programas jornalísticos, informativos e de serviços sobre os mais diveros temas.

Quem vê esta descrição acha que a rádio tem o maior respaldo por aqui, não é? Mas que não se iludam com isso. Mário Kertész, dono da emissora que apresenta o Jornal da Cidade (das 18h às 20h), é o único que consegue, por aqui, burlar a lei que obriga as rádios a transmitirem a Voz do Brasil às 19h. Só não me pergunte como... De qualquer forma, Mário, que já foi prefeito de Salvador, é movido por interesses políticos e os deixa transbordar na sua programação. Foi explícito, por exemplo, o ataque do radialista ao então candidato à prefeitura de Salvador Antonio Imbassahy (certamente estimulado por uma associação ao Ministro Geddel Vieira Lima, "pai" da candidatura do atual prefeito e candidato à reeleição João Henrique). Seu programa, sua revista, seu jornal (sim, ele é um ACM mais magro, novo e mais desbocado) e sua partipação em um dos debates televisivos não deixaram dúvidas de sua "anti-preferência".

O limite da palavra - O Jornal da Cidade, apresentado por Mário, costuma ser fonte de várias discussões por seu conteúdo e pelos discursos, sempre polêmicos, do apresentador. Mas hoje não vou falar do que ele disse, mas do que ele deixou que dissessem. Ontem à noite, a ouvinte Júlia Paes escreveu ao programa criticando, como sempre, a situação em que se encontra a cidade. A assistente do radialista leu o correio e me deixou estarrecida em pleno trânsito. Desbocada (ou apenas sincera no seu desabafo), ela escreveu a expressão (peço licença para repetir) "fudendo" pelo menos três vezes, todas lidas no ar como se não fossem nada demais.

Não se trata de ser ou não pudica. Se trata de perceber o limite da liberdade de expressão e do uso de certas expressões. Um programa que passa neste horário, não pode se dar ao luxo de exibir tal desabafo. O horário é impróprio; por mais que o seu público seja bem segmentado, não nos esqueçamos dos pais que vão buscar seus filhos na escola e vão ouvindo a rádio no caminho de casa. Como explicar tal palavra e depois pedir a ele que não a repita? Da mesma forma que temos que controlar o que as crianças vêem na TV, fechemos seus ouvidos ou mudemos de estação.

Meu pai, que estava comigo, ficou estupefato com a leitura da carta sem nenhum tipo de "controle", afinal, você não precisa ser criança pra não gostar de certas expressões de baixo calão. Certamente, Mário sabia o que havia naquele e-mail antes de deixar sua assitente lê-lo no ar, mas ninguém é obrigado a ouvir isso. Revoltado, ele me perguntou o que poderia ser feito mais diretamente a respeito. E eu, pesarosa, lhe disse: "infelizmente, não muita coisa". No máximo um correio à emissora, que não deve ser lido no ar com a mesma permissividade que a carta de Júlia Paes foi (mas a esperança é a última que morre). O Sindicato dos Jornalistas da Bahia é pouco operante e somos, por si só, uma categoria extremamente desunida e dotada de um corporativismo interesseiro. Aqui, não há cenário para ataques apolíticos a "colegas de profissão". O caso se torna mais grave ainda quando se sabe que palavrões e termos de baixo calão, além de discursos ofensivos e machistas são, na verdade, uma rotina no programa.

Discurso velho - Defendo que o Jornalismo deve ter um órgão regulador. O fazer jornalístico no país é um "samba do crioulo doido", com o perdão do termo, e é criticado quem quer dar harmonia ao desfile. Por que praticamente todas as profissões de bacharelados têm Conselhos Federais e Estaduais e nós agimos sem nenhum tipo de regulamentação? Porque nós não podemos ser advertidos, punidos quando passamos dos limites ou fazemos algo errado? O presidente Lula virou saco de pancadas da imprensa quando defendeu a criação do conselho. Mas nós, jornalistas, temos que ser inimputáveis, não é? Se alguém nos critica e adverte publicamente por algo que dissemos ou publicamos, trata-se de um atentado à tão imaculada Liberdade de Expressão. Discurso empoeirado e hipócrita, isto se tornou uma desculpa para todo tipo de disparate. E o espectador que se f...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Brancos, nulos e correntes

Há muito tempo descobriu-se uma nova maneira de "exercitar a consciência política": mandando correntes de e-mails.

Esta semana, recebi uma mensagem falando sobre a diferença entre votos brancos e nulos, e encorajando o voto nulo como voto de protesto. O texto não é novidade, já devo ter recebido na minha caixa umas três eleições antes -- o que torna a coisa ainda mais "interessante". A mensagem é completamente tendenciosa e chega a ser incorreta. Confira um trecho:

"Em Branco não significa que o eleitor não escolheu nenhum candidato, mas sim que ele abdica de seu voto. Não é ato de contestação e sim desconformismo (sic). Os votos em branco significam 'tanto faz' e são acrescentados ao candidato de maior votação no último turno.
Exemplo: Se existem dois candidatos 'Bonzinho' e 'Ruinzinho': 'Bonzinho' termina com 52% dos votos; 'Ruinzinho' recebe 35%; 10% são votos em branco e; 3% são nulos, isso significa que 3% dos eleitores não querem nem 'Bonzinho' nem 'Ruinzinho' no poder, mas 10% dos eleitores estão satisfeitos tanto com 'Bonzinho' como com 'Ruinzinho', o que vencer está bom. Assim o 'Bonzinho' tem uma aceitação de 62% (52%+10%) do eleitorado.
Já o Voto Nulo é um protesto válido. Ele quer dizer que o eleitor não está satisfeito com a proposta de nenhum candidato e se recusa a votar em umou outro, a existência dele permite que o eleitor manifeste a sua insatisfação.
O voto nulo, ao contrário do que parece, é um voto válido. Ninguém fala dele, nem mesmo nas instruções para votação. Explicam como votar em um candidato ou como votar em branco, mas ninguém explica como anular um voto...


Por que os votos nulos são desencorajados? Por que ninguém fala deles???
Porque, se na eleição entre 'Bonzinho e 'Ruinzinho', 'Bonzinho' terminasse as eleições com 39% dos votos e; 'Ruinzinho' com 31%; 10% de brancos e; 18% nulos. As eleições teriam que ser repetidas e nem 'Bonzinho' e nem 'Ruinzinho' poderiam participar das eleições naquele ano.
Se nenhum dos candidatos conseguirem a maioria (mais de 50%) no último turno, as eleições têm que ser CANCELADAS!!! Os candidatos são trocados e novas eleições têm que ocorrer.
Ou seja, o voto nulo, do qual ninguém fala e que o terminal acusa como 'incorreto', é o único voto que pode anular uma eleição inteira e remover docenário todos os candidatos daquela eleição de uma só vez."


Quem decidiu demonstrar sua consciência política (dá pra chamar assim?) por esta corrente, perdeu tempo. Primeiro, porque não dá pra fazer uma coisa somente através da outra. Segundo, porque este e-mail é uma lenda e, portanto, totalmente improcedente. A pessoa lê, pensa "é, político nenhum presta, vou protestar votando nulo!" e passa a corrente adiante. Ela nem se dá ao trabalho de ler a lei -- obrigação de qualquer cidadão.

Só pra começar, a lei 9.504, de 30 de setembro de 1997, fala: "Será considerado eleito o candidato a Presidente ou a Governador que obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos. Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição no último domingo de outubro, concorrendo os dois candidatos mais votados, e considerando-se eleito o que obtiver a maioria dos votos válidos." Por maioria absoluta entenda-se, simplesmente, a maioria. Num universo de 100, 15 do candidato A em relação a 7 do B, sendo o resto nulos e brancos, é maioria absoluta. NÃO SÃO COMPUTADOS OS VOTOS BRANCOS E NULOS. Este site aqui dá uma boa explicação, juntando diversas leis e diferenciando voto nulo e nulidade da eleição.

Falemos de palavras. Chamar de "Bonzinho" e "Ruizinho" é demais... besta e tendencioso demais. Segundo, desconformismo só existe na cabeça de quem escreveu isso -- e que, por sinal, não teve coragem de assinar. Isso deveria querer dizer o contrário de conformismo / conformidade, o que, por si só, já fica contraditório diante do conteúdo da mensagem. O autor do texto certamente queria escrever conformismo, mas se preocupou tanto em colocar negatividade no texto, que negou até o que não devia.

O voto branco não significa que o eleitor abriu mão de seu voto. Nem Deus é tão onipresente pra entrar assim na cabeça do eleitor e entender porque ele votou branco. Quem vai à urna e vota branco também pode ter decidido não votar em nenhum candidato porque não gostou de suas propostas, ou porque não se decidiu. E nem todo voto nulo é protesto válido; o eleitor pode ter digitado, simplesmente o número errado, ou não conhecer nenhum dos candidatos e não querer dar seu voto a quem não conhece (isso não é necessariamente manifestaçã de consciência política...). E uma outra observação a se fazer é que muitos votos são considerados nulos não porque o eleitor digitou um número que não existe e confirmou, mas porque o candidato poder ter tido a candidatura indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral.

"Por que os votos nulos são desencorajados? Por que ninguém fala deles???" Porque não faz o mínimo sentido que, num país de regime democrático e que tem o voto como obrigatório, encorajar a nulidade do voto não faz o mínimo sentido. Quer protestar? Levante uma bandeira, vá às ruas, mostre a cara, assine o texto que escreve, faça mais do que mandar correntes prontas sentado em frente ao computador. Quer um político que preste? Conheça os candidatos, procure saber o que eles têm e propõem. E acompanhe o trabalho de quem já foi eleito, porque se ele não fez nada, você terá como saber.