quinta-feira, 9 de outubro de 2008

As liberdades e a expressão

A Rádio Metrópole, aqui em Salvador, é um caso peculiar dentro da programação baiana -- e todos os sentidos do termo. Ela já teve diversos perfis, pertencendo a diversos grupos, mas se estabilizou num quadro singular. Sua programação é musical somente das 23h às 6h do dia seguinte; o resto da grade é composta por diversos programas jornalísticos, informativos e de serviços sobre os mais diveros temas.

Quem vê esta descrição acha que a rádio tem o maior respaldo por aqui, não é? Mas que não se iludam com isso. Mário Kertész, dono da emissora que apresenta o Jornal da Cidade (das 18h às 20h), é o único que consegue, por aqui, burlar a lei que obriga as rádios a transmitirem a Voz do Brasil às 19h. Só não me pergunte como... De qualquer forma, Mário, que já foi prefeito de Salvador, é movido por interesses políticos e os deixa transbordar na sua programação. Foi explícito, por exemplo, o ataque do radialista ao então candidato à prefeitura de Salvador Antonio Imbassahy (certamente estimulado por uma associação ao Ministro Geddel Vieira Lima, "pai" da candidatura do atual prefeito e candidato à reeleição João Henrique). Seu programa, sua revista, seu jornal (sim, ele é um ACM mais magro, novo e mais desbocado) e sua partipação em um dos debates televisivos não deixaram dúvidas de sua "anti-preferência".

O limite da palavra - O Jornal da Cidade, apresentado por Mário, costuma ser fonte de várias discussões por seu conteúdo e pelos discursos, sempre polêmicos, do apresentador. Mas hoje não vou falar do que ele disse, mas do que ele deixou que dissessem. Ontem à noite, a ouvinte Júlia Paes escreveu ao programa criticando, como sempre, a situação em que se encontra a cidade. A assistente do radialista leu o correio e me deixou estarrecida em pleno trânsito. Desbocada (ou apenas sincera no seu desabafo), ela escreveu a expressão (peço licença para repetir) "fudendo" pelo menos três vezes, todas lidas no ar como se não fossem nada demais.

Não se trata de ser ou não pudica. Se trata de perceber o limite da liberdade de expressão e do uso de certas expressões. Um programa que passa neste horário, não pode se dar ao luxo de exibir tal desabafo. O horário é impróprio; por mais que o seu público seja bem segmentado, não nos esqueçamos dos pais que vão buscar seus filhos na escola e vão ouvindo a rádio no caminho de casa. Como explicar tal palavra e depois pedir a ele que não a repita? Da mesma forma que temos que controlar o que as crianças vêem na TV, fechemos seus ouvidos ou mudemos de estação.

Meu pai, que estava comigo, ficou estupefato com a leitura da carta sem nenhum tipo de "controle", afinal, você não precisa ser criança pra não gostar de certas expressões de baixo calão. Certamente, Mário sabia o que havia naquele e-mail antes de deixar sua assitente lê-lo no ar, mas ninguém é obrigado a ouvir isso. Revoltado, ele me perguntou o que poderia ser feito mais diretamente a respeito. E eu, pesarosa, lhe disse: "infelizmente, não muita coisa". No máximo um correio à emissora, que não deve ser lido no ar com a mesma permissividade que a carta de Júlia Paes foi (mas a esperança é a última que morre). O Sindicato dos Jornalistas da Bahia é pouco operante e somos, por si só, uma categoria extremamente desunida e dotada de um corporativismo interesseiro. Aqui, não há cenário para ataques apolíticos a "colegas de profissão". O caso se torna mais grave ainda quando se sabe que palavrões e termos de baixo calão, além de discursos ofensivos e machistas são, na verdade, uma rotina no programa.

Discurso velho - Defendo que o Jornalismo deve ter um órgão regulador. O fazer jornalístico no país é um "samba do crioulo doido", com o perdão do termo, e é criticado quem quer dar harmonia ao desfile. Por que praticamente todas as profissões de bacharelados têm Conselhos Federais e Estaduais e nós agimos sem nenhum tipo de regulamentação? Porque nós não podemos ser advertidos, punidos quando passamos dos limites ou fazemos algo errado? O presidente Lula virou saco de pancadas da imprensa quando defendeu a criação do conselho. Mas nós, jornalistas, temos que ser inimputáveis, não é? Se alguém nos critica e adverte publicamente por algo que dissemos ou publicamos, trata-se de um atentado à tão imaculada Liberdade de Expressão. Discurso empoeirado e hipócrita, isto se tornou uma desculpa para todo tipo de disparate. E o espectador que se f...

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