segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Olhos tortos

Há meses a fio ouvimos a mesma espécie de ladainha sobre a crise financeira global. Bum! Como lava de um vulcão, o resultado de décadas de capitalismo especulativo se derramaram em falências, quebras e fechamento de unidades financeiras diversas. E a erupção não tem fim.

O que começou nos Estados Unidos se converteu em um estonteante efeito dominó, que percorreu boa parte dos países do mundo causando diversas consequências para as suas economias. Todos eles tiveram um sintoma em comum: o estado de alerta máximo. Mas, equanto nos EUA as bolsas despencaram feito num tobogam; na Alemanha e em outros países europeus pacotes urgentes de auxílio foram anunciados, no Brasil várias empresas anunciaram férias coletivas de seus fucionários e bancos pediram ajuda. Um pouco de tudo em todos, uns sentindo menos, outros, mais.

Um e-mail que recebi me fez refletir sobre a cobertura acerca da quebradeira monetária mundial que, pelo menos aqui no Brasil, que ando assistindo, a imprensa está fazendo. Do ponto de vista econômico, nada mal. Os grandes jornais explicaram a origem do problema e estão, diariamente e em boa quantidade, se cuidando de reportar os efeitos em cada país -- de anúncios de falências de instituições a reduções nas taxas de juros e valoriza-desvaloriza do dólar. (Bons tempos em que dava pra viajar pra fora, com o dólar a R$1,50...).

Mas, como em boa parte de sua rotina, os grandes veículos esqueceram seu papel questionador. Jornalistas não simplesmente reportam e repetem os fatos; somos gatekeepers da realidade, e ela não pode simplesmente resvalar em nós -- sem nenhuma ofensa aos defensores da imparcialidade; a objetividade é um mito, e se trata aqui apenas de dizer que não podemos ser autistas diante dos fatos: somos servidores da esfera pública.

Ao se olvidar de sua função social, informações noticiadas como a de que o Japão vai oferecer sua reserva de de um trilhão de dólares para países em bancarrota passam batidas. Um trilhão de dólares, para ajudar a instituições e pessoas já com bastante dinheiro, e que quebram por abusar do mercado; por basearem sua situação financeira em especulações, literalmente.

E os jornalistas parecem comemorar a cada notícia de salvação. Agora, com que frequência ouvimos as mesmas nações se disporem a oferecer suas reservas para ao menos tentar diminuir o problema da miséria no mundo? Milhões de pessoas morrem todos os anos desta coisa tão primata e tão ignorada que é a fome. Fotos de crianças africanas moribundas percorreram o mundo, mas só o que fizeram foi ganhar prêmios de fotografias pela "beleza" que têm. Beleza... tsc. Todos os anos o Fórum Social Mundial é sediado em alguma parte do planeta, mas, por mais diversa que seja a geografia, todos os governantes têm a mesma postura: dar esmolas, se ao menos o fazem.

Não menosprezo o papel da economia; ela existe desde o princípio dos tempos, mesmo que nas mais rudimentares formas. Ela sustenta um país. Mas de que adianta tanto dinheiro, se mal empregado? A resposta temos aí, há meses, nos jornais.

Você já parou pra pensar em o que um trilhão de dólares poderia fazer pelas famílias dizimadas pela fome, Aids, doenças tropicais e pela guerra? Ou melhor: você consegue imaginar o que esta disposição para salvar a economia faria se fosse empregada no plano social? Infelizmente, nos dias de hoje, só o que podemos fazer é imaginar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Meta a língua você também!