
Um e-mail que recebi me fez refletir sobre a cobertura acerca da quebradeira monetária mundial que, pelo menos aqui no Brasil, que ando assistindo, a imprensa está fazendo. Do ponto de vista econômico, nada mal. Os grandes jornais explicaram a origem do problema e estão, diariamente e em boa quantidade, se cuidando de reportar os efeitos em cada país -- de anúncios de falências de instituições a reduções nas taxas de juros e valoriza-desvaloriza do dólar. (Bons tempos em que dava pra viajar pra fora, com o dólar a R$1,50...).
Mas, como em boa parte de sua rotina, os grandes veículos esqueceram seu papel questionador. Jornalistas não simplesmente reportam e repetem os fatos; somos gatekeepers da realidade, e ela não pode simplesmente resvalar em nós -- sem nenhuma ofensa aos defensores da imparcialidade; a objetividade é um mito, e se trata aqui apenas de dizer que não podemos ser autistas diante dos fatos: somos servidores da esfera pública.

E os jornalistas parecem comemorar a cada notícia de salvação. Agora, com que frequência ouvimos as mesmas nações se disporem a oferecer suas reservas para ao menos tentar diminuir o problema da miséria no mundo? Milhões de pessoas morrem todos os anos desta coisa tão primata e tão ignorada que é a fome. Fotos de crianças africanas moribundas percorreram o mundo, mas só o que fizeram foi ganhar prêmios de fotografias pela "beleza" que têm. Beleza... tsc. Todos os anos o Fórum Social Mundial é sediado em alguma parte do planeta, mas, por mais diversa que seja a geografia, todos os governantes têm a mesma postura: dar esmolas, se ao menos o fazem.
Não menosprezo o papel da economia; ela existe desde o princípio dos tempos, mesmo que nas mais rudimentares formas. Ela sustenta um país. Mas de que adianta tanto dinheiro, se mal empregado? A resposta temos aí, há meses, nos jornais.
Você já parou pra pensar em o que um trilhão de dólares poderia fazer pelas famílias dizimadas pela fome, Aids, doenças tropicais e pela guerra? Ou melhor: você consegue imaginar o que esta disposição para salvar a economia faria se fosse empregada no plano social? Infelizmente, nos dias de hoje, só o que podemos fazer é imaginar.
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