sábado, 13 de setembro de 2008

Pífio Paradoxo

Um ano se passou, a competição mudou e o quadro é o mesmo: a mídia fala o mínimo necessário sobre as disputas de jogos evolvendo atletas com algum tipo de deficiência.

Em 2007, quando da transmissão dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, escrevi uma crítica sobre a fraca cobertura que se fazia do evento. E olhe que ele aconteceu aqui, em terras tupiniquins. No mês passado, no encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, já previa que o mesmo poderia se repetir -- depois da festa, nenhum meio de comunicação sequer citou que as Paraolimpíadas começariam no último dia 6.

Casa de ferreiro, espeto de pau - Uma semana se passou desde que o evento começou, e o que se vê é algo precido com um "não mais que a obrigação". Emissoras de rádio como a CBN e a Band News FM praticamente apagaram os boletins com informações dos jogos. Nos sites, ah, quase não há Pequim. Na capa, o futebol e a Fórmula-1 voltam aos destaques, relegando as Paraolimpíadas ao inferior da página (isso se há destaque na capa!!). Volto a falar dos quatro grandes portais do país:

No Globo.Com, uma página traz as últimas notícias, boa parte delas sem fotos nem vídeos. Além disso, só o bom, velho e elementar quadro de medalhas; nem a programação das provas e competições você encontra no site. O iG, este aí nem tem mais nada sobre Pequim. Se quiser saber sobre os jogos Paraolímpicos, não procure lá: você não vai achar uma palavra sequer. O Terra e o Uol é que estão melhores, inclusive com a programação da disputa. Quem entra nestes sites ainda tem a chance de ver o que é cada modalidade -- afinal, nem todo mundo sabe que raios é Bocha. Ainda assim, os sites e a cobertura em geral estão magros.

Na TV, meio que fez o maior espetáculo (no sentido negativo do termo) sobre as Olimpíadas, quase não há transmissão. A TV Brasil fez jus a sua proposta e foi a ÚNICA a exibir ao vivo a cerimônia de abertura dos Jogos Paraolímpicos. Todas as equipes das emissoras enviadas para Pequim foram praticamente esvaziadas -- deixa-se, para constar, um cinegrafista, um técnico e um repórter (se tiver). Nos telejornais nacionais, as medalhas brasileiras são reduzidas a curtos VT's, na maioria das vezes notas cobertas. E olhe que estamos em 11º lugar no quadro de medalhas (informação do momento de postagem).

Nos meios de comunicação, em meio a tantos ferreiros, o espeto é de pau, madeira frouxa. São tão firmes ao fazer matérias defendendo o direito dos deficientes e iniciativas de acessibilidade, e dão tiros nos pés todos os dias. Em uma cobertura pífia, caímos em contradição. Fazemos nosso próprio e revoltante paradoxo. Com um país que não sabe como lidar com a população portadora de deficiência, conseguimos o milagre -- não há outro termo num Brasil sem políticas efetivas -- de estarmos entre os 15 países no quadro de medalhas. E não damos o devido valor a isso.

Num vício de entortar critérios de noticiabilidade, enquadramos tudo na comoção e, como a galeria de fotos do Globoesporte.Com insiste em estampar no título, jogamos tudo no mesmo saco dramático da "superação". Sim, a vida de portadores de deficiência envolve superação diária, mas é muito mais do que isso. Reduzir seu esporte e seu dia-a-dia à superação é dramatizar e colocá-los num patamar mais distante do nosso do que de fato é. Eles não estão à beira da morte e não são incapacitados. E mais: a superação é inerente a todo e qualquer atleta, e isso os faz enquanto tais.

Mas é tudo uma questão de referencial: não é necessária, nas Paraolimpíadas, uma cobertura como a dos Jogos Olímpicos porque, esta sim, foi exageradíssima. A mídia e o Comitê Olímpico Brasileiro elevaram e muito a participação dos brasileiros em Pequim. E o pior para nós, jornalistas, de maneira acrítica. No dia-a-dia do showrnalismo, vivemos uma overdose de Olimpíadas e um ritmo terminal de Paraolimpíadas. E sem olharmos no espelho os nossos defeitos.

2 comentários:

  1. Oi Ana, excelente texto! Infelizmente vc tem razão. Os veículos de comunicação não dão (e acredito que tão cedo não vão dar) uma ampla cobertura nas Paraolimpíadas como é feito nas Olimpíadas ou Copa do Mundo. O porquê disso eu não sei, só pode ser desmerecemdo os esportes praticados por portadores de deficiência física. Eles acham que talvez não desse audiência, pelo contrário. Garanto que daria sim! Uma vez que o Brasil vem fazendo uma excelente campanha, ah como seria bom se os atletas das Olimpíadas fossem assim tb, 11 ouros (pelo menos a última vez que vi, sábado). Eu vou cumprindo meu papel, e todo dia solto notas no programa sobre os jogos paraolímpicos na Rádio Foz! Não dou mais destaques pela falta de tempo e excesso de notícias, mas informo sempre.

    Beijos Ana, uma ótima semana e parabéns pelo Blog!

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  2. Achei ótima a idéia do texto, mas senti falta de um comentário abordando o resultado da Paraolimpíada. Afinal, houve um grande avanço do Brasil no quadro de medalhas, ficando na nona posição, mesmo com todas as dificuldades, já conhecidas, de nossos atletas, agravadas quando estes são paraolímpicos.

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