sábado, 20 de setembro de 2008

A ignorância do LHC

No último dia 10, cientistas de diversas partes do mundo deram um passo essencial no futuro da humanidade. Fizeram o maior experimento científico de todos os tempos. Têm em mãos algo que nos encheu de esperança de se fazer grandes descobertas. Criaram uma ferramenta apta para responder uma das maiores icógnitas do universo -- literalmente.

Pelo menos o discurso acima foi utilizado por cientistas e muitos jornalistas no lançamento do LHC, o Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider, em inglês). O projeto é o maior acelerador de partículas já criado, e simula as condições no momento da criação do universo. Em plena velocidade, o LHC gerará 600 milhões de colisões por segundo entre partículas subatômicas chamadas prótons, que explodirão em novas partículas até agora não observadas.

O LHC tem como principal objetivo encontrar uma partícula chamada Bóson de Higgs, que esplicaria porque tudo neste universo é feito de massa. Ele também quer investigar se há outras dimensões espaciais além das três já conhecidas, e como o universo evoluiu.

Por trás de todos os aparatos, não se pode negar: muitas promessas de avanços e descobertas. E, com o perdão do trocadilho, num gasto astronômico: 3 bilhões de euros. Gasto não; investimento, os defensores dizem.

A mídia comprou bonito a idéia. Colocaram o LHC num patamar elevadíssimo por tudo que ele representa e quer descobrir. Sem dúvida, numa fizemos um projeto com este. Mas muitos de nós fomos acríticos ao lidar com ele. Países europeus se juntaram pela causa do LHC facilmente, e formaram este orçamento bilionário. No entanto, uma série de problemas priores assola o planeta (não o universo, ainda) e nós só conseguimos tomar atitudes medíocres diante disto.'

Um exemplo: a África, apesar de toda a sua beleza, virou o continente símbolo do atraso, dos doentes e da guerra. Países desenvolvidos financiam suas mortes, e fecham os olhos para a miséria e as doenças. Podemos fomentar a ciência, mas como nos considerarmos bons investidores em ciência sem sermos bons humanos? O cientetista / investidor deve ser humano, antes de tudo.

A imprensa deveria ter levantado a questão: porque se investe tanto nisso e é tão difícil coçar o bolso para questões sociais? Estamos acabando com o nosso planeta (isso enquanto a própria natureza não se revolta), e não gastamos 3 bilhões de euros numa solução pra isso. E detalhe: o dinheiro foi para uma máquina que só volta a funcionar a partir do segundo semestre de 2009, por causa de um vazamento de hélio. Tanto para tão pouco...

Um comentário:

  1. Ignorância é a palavra correta para o seu artigo. É incrível a quantidade de pessoas que acham que deveríamos abandonar a ciência e voltar a morar em cavernas, temendo as estrelas. Se não fosse o CERN a senhora sequer teria acesso a internet, mas como se trata de jornalista graduada acredito que está ciente da história dos meios de comunicação.

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