quarta-feira, 28 de maio de 2008

Jornalistas e blogs-fontes

Publicada no Portal Comunique-se, uma notícia com um quê de metalinguagem:

82% dos jornalistas usam blogs como fonte de informação, diz pesquisa
Carla Soares Martin

Uma pesquisa da empresa de comunicação Textual afirma que 82% dos jornalistas utilizam blogs como fonte de pesquisa para suas matérias e reportagens. A empresa entrevistou, por questionário, 100 profissionais da mídia, nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília, durante o mês de maio.

Os resultados foram apresentados na quarta (14/05), numa palestra com a sócia-diretora da Textual, Carina Almeida, no 11º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, em São Paulo.

Apesar de consultarem blogs, a maioria dos jornalistas consultados não os possui. Trinta e quatro por cento disseram que não ter páginas pessoais na internet. A empresa não chegou a perguntar o porquê da não-aderência.

Quanto à qualidade dos blogs, 54% dos jornalistas deram nota 3, numa escala de 0 a 5, enquanto 19% forneceram nota 2, e 16%, nota 4.

Para Carina Almeida, o uso dos blogs pela imprensa é uma mostra do potencial de comunicação em conteúdos participativos (blogs, comunidades como Orkut, Youtube e Wikipedia). “Se os jornalistas consultam blogs, as empresas também precisam se ater às novas mídias”, disse.

A diretora da Textual defendeu um monitoramento da mídia social por parte das companhias, como forma de evitar uma possível crise. “As empresas precisam, ao menos, saber o que dizem os canais da mídia social se quiserem identificar as tendências e opiniões de seus consumidores e da imprensa”, afirmou.

Uma vez li no Blog Jornalismo e Internet um post que falava sobre a importância de todos os jornalistas terem blogs. A idéia tem autoria de Scott Karp. Vale a pena conferir. A minha ressalva é que, só pela possibilidade de exercitar sua escrita, seus textos em outros estilos, sem as amarras de uma política editorial, os profissionais e estudantes de jornalismo deveriam abraçar a causa.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Mais um tiro

E a metralhadora giratória da Igreja Universal do Reino de Deus continua puxando o gatilho para toda a imprensa brasileira. Estadão, A Tarde, Folha de S. Paulo, o tiroteio continua -- e tem mais um jornalista na mira.

Igreja Universal quer indenização de colunista da Folha
* Por Marcelo Soares, no Knight Center for Journalism in the Americas

A Igreja Universal do Reino de Deus processou o jornalista Fernando de Barros e Silva, editor de política e colunista do jornal Folha de S.Paulo, por um artigo em que ele comentava as propriedades da igreja, informa a Folha.

A coluna de Fernando Barros comentava o enriquecimento da igreja, conforme descrito por reportagem de Elvira Lobato. Para a igreja, o comentário buscava "desnaturar os propósitos institucionais" da entidade.

O texto foi publicado dois dias depois da reportagem de Elvira Lobato, que já recebeu 89 ações de indenização movidas por fiéis da igreja. Todas as ações julgadas até agora foram derrubadas pelo fato de a reportagem não fazer juízo sobre os fiéis da igreja. A Universal não processou o jornal com sua própria personalidade jurídica pela reportagem de Elvira.

Veja aqui a nota da Folha de S. Paulo na íntegra.

Eles também metem a língua na imprensa

A cobertura do Caso Isabella teve sua função social, mas deixou muitos descontentes...

Associação de juízes critica privilégio à imprensa na investigação de assassinato de menina
* Por Marcelo Soares, no Knight Center for Journalism in the Americas

A Associação Juízes e Democracia criticou em nota o privilégio dado à imprensa na investigação do assassinato da menina Isabela Nardoni, segundo o Blog do Frederico Vasconcelos. Os acusados pela morte da menina, que foi sufocada e jogada do sexto andar, são o pai e a madrasta. Os dois estão presos e, de acordo com a Folha de S.Paulo, são hostilizados por outros detentos. Ambos afirmam ser inocentes.

A nota da AJD afirma que a defesa dos acusados é prejudicada pela forma como o caso é coberto. "Viu-se que os atos investigatórios davam um tratamento privilegiado para os órgãos da imprensa, que por sua vez construíram a notícia da tragédia, sempre apontando a responsabilidade aos investigados, e divulgando peças da investigação como se tivessem acesso privilegiado às mesmas, ferindo assim os direitos fundamentais dos investigados", diz o texto.

O assassinato da menina, no final de março, causou comoção no Brasil inteiro e um mês e meio depois ainda ocupa boa parte dos telejornais. No final de abril, um levantamento mostrou aumento de 46% na audiência das emissoras de TV com o noticiário sobre o caso. Neste domingo, segundo a Folha, a entrevista exclusiva com a mãe da menina deu ao programa "Fantástico" sua maior audiência do ano.

Clique aqui e confira a nota da ADJ na íntegra.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

'Duas Caras' e movimentos apartidários

No último sábado (10) a novela Duas Caras exibiu uma cena bem peculiar. Durante caminhada noturna na orla do Rio, as madames Gioconda (Marília Pêra) e Lenir (Guida Viana) são surpreendidas pela violência: Lenir é atacada e assaltada por dois homens. Revoltada com a situaçào e inspirada após um bem-sucedido discurso no comício de seu genro Evilásio (Lázaro Ramos), ela nem socorre a amiga e corre atrás de um microfone para gritar "CHEGA!"

E é aos berros, com um discurso-com-cara-de-desabafo, segurando o microfone do carro do rapaz que vende pamonhas, que ela lança um movimento contra a indiferença: "Chega de cinismo, de hipocrisia, de mentiras, de violência! Chega de gente que quer se dar bem a qualquer preço, que banca a vítima só pra levar vantagem, gente que não tem vergonha na cara e faz xixi na rua! Chega de favelização, de dengue, de asfalto esburacado, chega de falta de cuidado com a saúde do povo, de governantes omissos! Chega de roubo! Chega de bancar o avestruz e enterrar a cabeça na areia pra não ver o que está errado! Chega, chega, CHEGA, CHEGAAAAAAAAA!!!".

Veja a cena do assalto e do "chega!" em vídeo:




Assim, ela lança o Movimento Chega, que vai contar com a participação de suas amigas, também ricas, que estudaram com ela no Sacre-Cour. Apesar do convite de Narciso (Marcos Winter) para entrar para a política, a proposta é apartidária e vem de sua indignação com a situação do país. Em outras palavras, uma porta-voz da indignação das elites.

Diante da cena que se passou no sábado -- das que ainda virão mostrando a formação do movimento -- não consegui pensar em outra coisa: Aguinaldo Silva, ao meu ver, estaria fazendo referência ao movimento Cansei, lançado no ano passado. Ele começou como um protesto ao caos aéreo e à situaçào dos familiares das vítimas da tragédia do vôo 3054 da TAM, mas articulado por empresários, terminou como uma junção de pessoas de classe média alta e alta e grandes artistas da música e entretenimento protestando contra a situação do país (e contra o presidente Lula, por consequência).

terça-feira, 13 de maio de 2008

Mãe de Isabella dá pico de audiência no Fantástico

O Fantástico apostou em mais uma entrevista exclusiva do Caso Isabella para alavancar a audiência. No último domingo (11) o programa exibiu 33 minutos de uma conversa entre a apresentadora Patrícia Poeta e Ana Carolina Oliveira, mãe de garota Isabella, morta no dia 29 de março depois de cair do 6º andar de um prédio em São Paulo.

A estratégia deu certo e não foi perda de tempo para a audiência que ainda aguenta ouvir a cobertura do caso. Deu certo porque deu ao programa, segundo o jornal O Globo, 33 pontos de audiência e 43 de pico. Não foi perda de tempo porque Ana de fato teve o que dizer, fez revelações e respondeu a diversas perguntas com diferentes respostas -- diferentemente da entrevista com o pai de Isabella, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Ana Carolina Jatobá, em que eles passaram mais de meia hora falando praticamente a mesma coisa. Vale ressaltar que não estou julgando se os conteúdos de ambas as entrevistas eram verídicos ou não e, sim, se eles acrscentaram algo à cobertura.

A TV Globo não poderia ter um aproveitamento melhor do gancho do Dia das Mães. Das mães, filhas, netas que ficaram em casa assistindo ao programa, aproveitou-se o dia sensível para se mostrar -- com exclusividade, é claro -- a dor de uma mãe que perdera sua filha há um mês num trágico assassinato provavelmente causado pelo pai e madrasta.

domingo, 11 de maio de 2008

'O Professor e a Casa Grande'

O jornalista, doutor em Comunicação e Cultura e político Emiliano José escreveu um artigo, no site da revista Carta Capital, comentando o caso do ex-coordenador do colegiado de medicina da UFBA, Antônio Natalino Dantas. Na nova seção Diálogos, que possui diversos colaboradores, Emiliano traz o contexto histórico da casa grande e da senzala para a Bahia de 2008 e posiciona o médico na casa dos patrões. Com boas ironias, vale a pena dar uma conferida. Veja um trecho:

"E agora sentado na cadeira de balanço da Casa Grande, ouvindo acordes vindos do gramofone, quem sabe Bach ou Beethoven, diz que gosta mesmo, ouvido sensível, sofisticado que é, de piano e violino. Indignou-se porque até de Hitler o chamaram, os que se indignaram. Mas não há um quê de arianismo em tudo aquilo que o professor disse? É provável que ele creia que não. Que se creia um bom rapaz por tolerar gente de cor."

Leia a coluna na íntegra aqui.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Autoracismo na mídia baiana

O dia 30 de abril vai ficar marcado, pelo menos por um tempo, enquanto resistir na memória dos espectadores, como um dia em que preconceitos enrustidos vieram à mostra. Num tempo em que mal se fala de racismo -- tocar em preconceitos é muito complicado para alguns -- e, quando se fala, não se fala do racismo de negros sobre negros, um baiano mostrou seu preconceito contra os baianos.

Chamou-os de burros: disse que eles têm QI inferior em relação a outros estados. Afirmou, ainda, que o berimbau é uma prova da burrice dos nascidos no estado, visto que é um instrumento de uma corda só que não exige muito de quem o toca. Para completar, considerou o Olodum como uma escola de barulho -- "fica fazendo aquele pô-pô-pô-pô-pô-pô" -- cuja musicalidade de sua percussão é barulhenta por não ter o conjunto harmônico de uma sinfonia de Haydn ou Beethoven.

Antônio Natalino Dantas, autor das declarações acima, disse tudo isso para justificar o porquê do desempenho dos alunos de Medicina da UFBA no Enade ter sido baixo, nota 2 num universo de 1 a 5. Apesar de tudo, ele é baiano. Acadêmico. Coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia. E é também milhares de outras coisas que prefiro não colocar aqui, por tentar me ater à cobertura jornalística de suas falas e as repercussões. (Confira aqui as primeiras notícias do iBahia.com e do Aratu On Line)

As estarrecedoras declarações ganaram merecida atenção da imprensa. A rádio Band News FM, que foi quem diculgou o conteúdo, conseguiu logo depois uma entrevista ao vivo com o reitor da UFBA, Naomar Almeida Filho -- é bom ressaltar que uma entrevista ao vivo na Band News local não é, definitivamente, algo comum. Os telejornais do dia 30 fizeram matérias repercutindo as afirmações (assista à matéria do BATV aqui) e pautaram a rotina dos baianos.

Os dias seguintes é que são definitivos para se analisar a cobertura. Programas popularescos, como o Que Venha o Povo, se limitaram a mostrar, além das opiniões dos mais diretamente atingidos pelos discursos do professor, que era o óbvio, uma seqüência de Povo Falas. As declarações do professor foram incessantemente repetidas, com direito a efeitos sonoros. Outros telejornais mostraram entrevistas com o reitor Naomar, como o Jogo Aberto, e o diretor da Faculdade de Medicina, como o Bahia Meio Dia.

O que se espera é que a explicitação destes preconceitos enrustidos possa trazer à imprensa discussões bem pertinentes e amplas, como a visão do baiano sobre o próprio baiano; racismo além do negro; o papel da musicalidade e de outros elementos afro na cultura da Bahia, dentre outras.