Nossa, a cada dia me vejo inspirada a criar uma editoria própria para as manchetes do Correio*. Mas não que o merecimento de uma tag própria seja por mérito. E os deméritos foram tantos que nem dá pra lembrar -- mas cito alguns. O jornal já personificou o mal em um jovem acusado de pedofilia (você viu isso aqui), misturou Índia com o futebol baiano (você também viu isso aqui), tratou como novidade, quase um disparate, o caso de um policial militar prender outro em flagrante por desacato (desde quando isso não pode?), culpou Rubens Barrichelo pela mola que se soltou do nada e atingiu Felipe Massa ("viu o estrago, Rubinho?")... Isto em edições anteriores. A de hoje merece um intertítulo à parte.
Metralhadora - Já começa na capa -- Rubinho foi o alvo outra vez. Em referência ao fato de, até então, ser o único brasileiro com (fortes!) chances de vencer o campeonato da Fórmula 1 deste ano, o jornal escreve "O jeito é levar fé em Rubinho!", como se isto fosse algo doloroso, de quem não tem mais esperanças e está no corredor da morte.
Na página 3, a primeira notícia do jornal relata a guerra contra o tráfico de drogas na capital Rio de Janeiro, em que, além de muitos mortos, um helicóptero foi abatido a tiros esta semana. O título é megalomaníaco: "Pior, só no Iraque". Acho que eles são realmente míopes. Ainda sobre violência, os apelidos utilizados por criminosos e traficantes na Bahia virou tema de matéria nas páginas 12 e 13. O título: "Galera do mal viaja em cada apelido!" Tá, gente, espera aí. Recursos de oralidade são uma coisa. Linguagem popular é outra coisa. Mas este título é sem comparação... Só faltou o "vú?".
Não digo que o jornal é de todo ruim. Conheço ótimos profissionais que fazem parte de seu quadro. E o veículo também traz temáticas interessantes em parte de suas reportagens. Mas o problema é confundir linguagem popular e acessível com subestimação de inteligência. O povo pode ser povo, mas não é otário.
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Se quiser sugerir uma "manchete do Correio*" para virar post aqui no Metalíngua, sinta-se à vontade! Escreva para metalinguanaimprensa@gmail.com.
domingo, 18 de outubro de 2009
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Barrigada: um baiano entrega o outro
Não tem jeito, era previsível: o nascimento de Marcelo, filho de Ivete Sangalo com Daniel Cady (sim, imprensa, ele existe...), ia inflamar os colunistas e jornalistas de axé da Bahia em busca do furo perfeito -- a primeira foto exclusiva do menino. Mas, já diriam os sábios do jornalismo: a pressa é inimiga da apuração!
Desrespeitando esta máxima, o Holofote, do Bahia Notícias, deu uma barrigada -- e o termo não poderia ser melhor nestas circunstâncias. A revelação foi do Estourados, concorrente dele no Itapoan On Line. O fotógrado do Holofote fotografou uma pasta segurada por Daniel Cady em que constaria, na capa, a foto de Marcelo. Aí, pronto! Tascaram-lhe logo uma manchete no BN. Só que o pessoal do lado baiano de Edir Macedo na internet tratou de revelar que esta foto seria, na verdade, uma imagem de outro bebê que apenas ilustra a pasta, sendo igual para todos os pais.
Ficou feio para o Holofote, que teve que se corrigir depois (pelo menos isso...). Bastava fazer uma pergunta para algum funcionário da maternidade e este mico ainda estaria escondido na floresta...
Desrespeitando esta máxima, o Holofote, do Bahia Notícias, deu uma barrigada -- e o termo não poderia ser melhor nestas circunstâncias. A revelação foi do Estourados, concorrente dele no Itapoan On Line. O fotógrado do Holofote fotografou uma pasta segurada por Daniel Cady em que constaria, na capa, a foto de Marcelo. Aí, pronto! Tascaram-lhe logo uma manchete no BN. Só que o pessoal do lado baiano de Edir Macedo na internet tratou de revelar que esta foto seria, na verdade, uma imagem de outro bebê que apenas ilustra a pasta, sendo igual para todos os pais.
Ficou feio para o Holofote, que teve que se corrigir depois (pelo menos isso...). Bastava fazer uma pergunta para algum funcionário da maternidade e este mico ainda estaria escondido na floresta...
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Depois das "delegatas"...
... Eu já deveria ter imaginado. Eles não arranjariam personagens de só um lado da faca. Depois de veicular em agosto uma mega matéria com três mulheres qque seriam algumas das delegadas mais bonitas do estado -- e que são destaque de beleza e eficiência na Polícia Civil de Salvador, foi a vez de trazer colírios para os olhos femininos -- ou de homens gays, para ser mais politicamente correta.
O Correio* de ontem destacou alguns dos homens da Polícia Rodoviária Federal como agentes de muita beleza e ótimo trabalho nas estradas. O formato foi o mesmo do texto das "delegatas" (sic): matéria que realça atributos físicos e de trabalho dos personagens, além de, é claro, fotos posadas. (só que, no caso das delegadas, elas posaram em estúdio...)
Até aí, nenhum pecado em realçar qualidades físicas dos agentes rodoviários federais -- isso pode até ser positivo, levanta a autoestima deles, os coloca em voga, enfim. Mas, uma matéria como esta (e grande, ocupando pelo menos duas páginas do jornal além do destaque da capa) não tem razão para ser publicada com esta dimensão e este tema em plena segunda-feira! Que critérios de noticiabilidade são estes? "Caiu a matéria Vida/Mais do dia e vamos colocar uma que era do fim de semana"? Os jornais de segunda-feira costumam ser bem quentes, com saldo de crimes e acidentes de trânsito do fim de semana. Mas, o mais próximo de quente que o Correio* de segunda chegou foi subir a temperatura hormonal das mulheres que gostam de homens de uniforme.
Clique aqui para ler a matéria.
O Correio* de ontem destacou alguns dos homens da Polícia Rodoviária Federal como agentes de muita beleza e ótimo trabalho nas estradas. O formato foi o mesmo do texto das "delegatas" (sic): matéria que realça atributos físicos e de trabalho dos personagens, além de, é claro, fotos posadas. (só que, no caso das delegadas, elas posaram em estúdio...)
Até aí, nenhum pecado em realçar qualidades físicas dos agentes rodoviários federais -- isso pode até ser positivo, levanta a autoestima deles, os coloca em voga, enfim. Mas, uma matéria como esta (e grande, ocupando pelo menos duas páginas do jornal além do destaque da capa) não tem razão para ser publicada com esta dimensão e este tema em plena segunda-feira! Que critérios de noticiabilidade são estes? "Caiu a matéria Vida/Mais do dia e vamos colocar uma que era do fim de semana"? Os jornais de segunda-feira costumam ser bem quentes, com saldo de crimes e acidentes de trânsito do fim de semana. Mas, o mais próximo de quente que o Correio* de segunda chegou foi subir a temperatura hormonal das mulheres que gostam de homens de uniforme.
Clique aqui para ler a matéria.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Novidade na Globo: Sagrado
A TV Globo estreou um novo programete na sua grade, o Sagrado. O objetivo do programa é ouvir reperesentantes de diversas religiões para saber suas abordagens sobre os problemas do mundo, as guerras entre países e cotidianas, a opinião sobre as questões do dia-a-dia. Qual o papel deles no nosso cotidiano e como eles nos ajudam a compreender/conviver com nossos problemas?
E são vários líderes religiosos mesmo: no primeiro programa, que você assiste abaixo, a voz foi dada a uma líder do candomblé. Mais à frente serão ouvidos representantes do catolicismo, budismo, judaísmo, islamismo... A atração só tem dois problemas:
* o horário incoveniente -- depois do Globo Rural, com o especial sendo reproduzido depois da Santa Missa em pleno domingo de manhã cedo!
* a duração -- a vinheta coloca a maior expectativa, mas os vídeos são de dois minutos... pouco se ouve dos líderes religiosos.
Mas a ideia é, sim, válida, o tema é interessante e trata-se de um produto relativamente diferente dos outros oferecidos pela emissora. Quem puder, vale a pena conferir. E se não der pra acordar, basta acessar o portal de vídeos da Globo...
Assista ao primeiro programa abaixo:
E são vários líderes religiosos mesmo: no primeiro programa, que você assiste abaixo, a voz foi dada a uma líder do candomblé. Mais à frente serão ouvidos representantes do catolicismo, budismo, judaísmo, islamismo... A atração só tem dois problemas:
* o horário incoveniente -- depois do Globo Rural, com o especial sendo reproduzido depois da Santa Missa em pleno domingo de manhã cedo!
* a duração -- a vinheta coloca a maior expectativa, mas os vídeos são de dois minutos... pouco se ouve dos líderes religiosos.
Mas a ideia é, sim, válida, o tema é interessante e trata-se de um produto relativamente diferente dos outros oferecidos pela emissora. Quem puder, vale a pena conferir. E se não der pra acordar, basta acessar o portal de vídeos da Globo...
Assista ao primeiro programa abaixo:
sábado, 3 de outubro de 2009
Olimpíada no Brasil: uma heresia?
Texto de Heloisa Helena Baldy dos Reis disponível no Estadão. Dica de Malu Fontes. As fotos são do site do governo do Rio de Janeiro (desculpem-me a falta de créditos nas fotos, estou sem editor no momento).
Vários dos mais importantes veículos de comunicação do País viveram uma semana de euforia em torno da eleição do país-sede para a Olimpíada de 2016. O que se viu foram, com raras exceções, apelos de jornalistas e editoriais para tornarem suas opiniões a expressão do sentimento nacional sobre o tema. Os críticos da candidatura brasileira ficaram de fora dos principais noticiários. A academia, até agora, se omitiu.
O Brasil é um país de grandes desigualdades, mas também de um povo receptivo e alegre. Tais qualidades ganharam destaque no discurso presidencial em Copenhague. Mais uma vez, as marcas da "brasilidade", reconhecidas mundialmente, foram apropriadas pelo marketing político-esportivo. O chefe da nação fez questão de registrar na sua fala o esforço de seu governo para que 30 milhões de pessoas deixassem a linha de pobreza nos últimos anos, bem como outros 20 milhões de brasileiros fossem incluídos na denominada classe média. Como torcedores nas arquibancadas de um estádio, Lula e sua comitiva vibraram com a escolha do Rio de Janeiro. Mas, afinal, será uma heresia organizar a Olimpíada no Brasil?
Se olharmos para a recente experiência do Pan-Americano no Rio, a resposta seria positiva. Ninguém desconhece que os legados que a competição deixaria para a cidade ficaram muito longe do prometido. Nada de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, da ampliação do metrô e da utilização dos equipamentos esportivos em prol de novos projetos esportivos.
Os gastos exorbitantes com o Pan de 2007 (mais de R$ 4 bilhões, quase dez vezes o estimado inicialmente) não se justificaram sob esse aspecto. Além disso, ninguém foi responsabilizado pela má organização do evento ou pelo disparate dos recursos aplicados. A pergunta que muitos se fazem é: não teria o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que continua comandado pelos mesmos dirigentes da época, que responder solidariamente pelos erros cometidos?
Os poderes executivos e legislativos que estiveram empenhados no apoio ao projeto Rio 2016 deveriam aproveitar a oportunidade para colocarem-se a serviço da democratização do esporte no País, por meio da proposição de leis que incentivem a alternância no poder das entidades esportivas e inibam a relação perversa existente entre elas e o Estado. Tais agremiações, embora sobrevivam quase que exclusivamente do dinheiro público, demonstraram desprezo pela prestação de contas à sociedade.
Com a escolha do Rio para sediar os Jogos de 2016, novas promessas virão e um novo sonho será vendido à população. Caberá à sociedade em geral, e à imprensa em particular, fiscalizar o cumprimento das juras.
Há no mercado nacional e internacional livros que denunciam esquemas armados em torno dos megaeventos esportivos. Alguns dos títulos são: Senhores dos Anéis, de Andrew Jennnings e Vyv Simson, uma investigação jornalística sobre os bastidores da Olimpíada de Barcelona; e Invasão de Campo: Adidas, Puma e os bastidores do esporte moderno, de Barbara Smit. As denúncias ali existentes servem de alerta para o Brasil.
As expectativas de atletas e ex-atletas brasileiros em torno da realização do megaevento em nosso país talvez sejam a maior evidência da ideia de que a Olimpíada possa renovar a esperança que o esporte nacional mereça mais atenção e investimentos. Não me refiro apenas ao aumento da verba orçamentária destinada ao Ministério do Esporte, medida necessária, mas também à urgente necessidade da construção de um Sistema Nacional Esportivo. O lamentável é que o brasileiro, apresentado pelo presidente Lula como "um povo que tem alma, calor, gingado, cor", tenha tido que esperar por essa oportunidade para ter ainda alguma esperança.
"É a hora e a vez do Brasil", insistiu o presidente. Renovam-se, pois, as esperanças. Sim, espera-se que sejam adotadas, além das medidas já mencionadas, ações como a construção de novos equipamentos esportivos, com a devida destinação orçamentária para sua manutenção, bem como a reforma dos já existentes. Somente assim os brasileiros poderão assistir à Olimpíada de 2016 e dizer que, de fato, valeu a pena.
É preciso afirmar, no entanto, que as manifestações contrárias à promoção do megaevento no Rio em 2016 foram totalmente legitimas. A história brasileira é prova dos abusos nos gastos de recursos públicos promovidos por dirigentes inescrupulosos. E o Pan do Rio, o caso mais recente disso.
Antes dos Jogos, o Brasil ainda promoverá a Copa do Mundo, em 2014. Esta também consumirá muito de dinheiro público, embora os governantes tenham garantido no passado que isso não ocorreria. Não acredito que o direito de sediar a Copa de 2014 tenha interferido na escolha do Rio para abrigar os Jogos de 2016. Os interesses da Fifa e do COI, pelo menos no que se refere ao esporte bretão, nunca foram convergentes. A presença do presidente de honra da Fifa na defesa da candidatura brasileira teve muito mais a ver com o seu bom trânsito internacional no mundo esportivo do que com uma legitimação das aspirações brasileiras pela entidade que ele representa. O Rio foi a cidade vencedora, entre outros aspectos, por suas belezas naturais, pelo ineditismo que a América do Sul representa, pela excelência do projeto apresentado e pelo carisma do presidente Lula.
Penso que para um país pleitear a promoção de um megaevento como os Jogos Olímpicos, este deveria ser possuidor de uma cultura esportiva que permita o acesso da sua população às diversas modalidades.
Sete anos nos separam da abertura dos Jogos. Fica a expectativa de que o País consiga avançar nas políticas públicas de inclusão da população nas práticas esportivas, rendimento e promoção da saúde. Assim como ocorreu com o Pan 2007, quando os governantes que pleitearam a realização do evento não foram os mesmos que o executaram, muitos dos atuais agentes não estarão mais ocupando cargos públicos. Assim, é preciso que elaborem orçamentos e contratos condizentes com a realidade do País, para que no futuro não tenhamos que nos envergonhar pela quebra de mais um recorde mundial da irresponsabilidade.
*Professora de sociologia do esporte da Faculdade de Educação Física da Unicamp e autora de Futebol e Sociedade (Liber Livro, 2006).
Vários dos mais importantes veículos de comunicação do País viveram uma semana de euforia em torno da eleição do país-sede para a Olimpíada de 2016. O que se viu foram, com raras exceções, apelos de jornalistas e editoriais para tornarem suas opiniões a expressão do sentimento nacional sobre o tema. Os críticos da candidatura brasileira ficaram de fora dos principais noticiários. A academia, até agora, se omitiu.
O Brasil é um país de grandes desigualdades, mas também de um povo receptivo e alegre. Tais qualidades ganharam destaque no discurso presidencial em Copenhague. Mais uma vez, as marcas da "brasilidade", reconhecidas mundialmente, foram apropriadas pelo marketing político-esportivo. O chefe da nação fez questão de registrar na sua fala o esforço de seu governo para que 30 milhões de pessoas deixassem a linha de pobreza nos últimos anos, bem como outros 20 milhões de brasileiros fossem incluídos na denominada classe média. Como torcedores nas arquibancadas de um estádio, Lula e sua comitiva vibraram com a escolha do Rio de Janeiro. Mas, afinal, será uma heresia organizar a Olimpíada no Brasil?
Se olharmos para a recente experiência do Pan-Americano no Rio, a resposta seria positiva. Ninguém desconhece que os legados que a competição deixaria para a cidade ficaram muito longe do prometido. Nada de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, da ampliação do metrô e da utilização dos equipamentos esportivos em prol de novos projetos esportivos.
Os gastos exorbitantes com o Pan de 2007 (mais de R$ 4 bilhões, quase dez vezes o estimado inicialmente) não se justificaram sob esse aspecto. Além disso, ninguém foi responsabilizado pela má organização do evento ou pelo disparate dos recursos aplicados. A pergunta que muitos se fazem é: não teria o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que continua comandado pelos mesmos dirigentes da época, que responder solidariamente pelos erros cometidos?
Os poderes executivos e legislativos que estiveram empenhados no apoio ao projeto Rio 2016 deveriam aproveitar a oportunidade para colocarem-se a serviço da democratização do esporte no País, por meio da proposição de leis que incentivem a alternância no poder das entidades esportivas e inibam a relação perversa existente entre elas e o Estado. Tais agremiações, embora sobrevivam quase que exclusivamente do dinheiro público, demonstraram desprezo pela prestação de contas à sociedade.
Com a escolha do Rio para sediar os Jogos de 2016, novas promessas virão e um novo sonho será vendido à população. Caberá à sociedade em geral, e à imprensa em particular, fiscalizar o cumprimento das juras.
Há no mercado nacional e internacional livros que denunciam esquemas armados em torno dos megaeventos esportivos. Alguns dos títulos são: Senhores dos Anéis, de Andrew Jennnings e Vyv Simson, uma investigação jornalística sobre os bastidores da Olimpíada de Barcelona; e Invasão de Campo: Adidas, Puma e os bastidores do esporte moderno, de Barbara Smit. As denúncias ali existentes servem de alerta para o Brasil.
As expectativas de atletas e ex-atletas brasileiros em torno da realização do megaevento em nosso país talvez sejam a maior evidência da ideia de que a Olimpíada possa renovar a esperança que o esporte nacional mereça mais atenção e investimentos. Não me refiro apenas ao aumento da verba orçamentária destinada ao Ministério do Esporte, medida necessária, mas também à urgente necessidade da construção de um Sistema Nacional Esportivo. O lamentável é que o brasileiro, apresentado pelo presidente Lula como "um povo que tem alma, calor, gingado, cor", tenha tido que esperar por essa oportunidade para ter ainda alguma esperança.
"É a hora e a vez do Brasil", insistiu o presidente. Renovam-se, pois, as esperanças. Sim, espera-se que sejam adotadas, além das medidas já mencionadas, ações como a construção de novos equipamentos esportivos, com a devida destinação orçamentária para sua manutenção, bem como a reforma dos já existentes. Somente assim os brasileiros poderão assistir à Olimpíada de 2016 e dizer que, de fato, valeu a pena.
É preciso afirmar, no entanto, que as manifestações contrárias à promoção do megaevento no Rio em 2016 foram totalmente legitimas. A história brasileira é prova dos abusos nos gastos de recursos públicos promovidos por dirigentes inescrupulosos. E o Pan do Rio, o caso mais recente disso.
Antes dos Jogos, o Brasil ainda promoverá a Copa do Mundo, em 2014. Esta também consumirá muito de dinheiro público, embora os governantes tenham garantido no passado que isso não ocorreria. Não acredito que o direito de sediar a Copa de 2014 tenha interferido na escolha do Rio para abrigar os Jogos de 2016. Os interesses da Fifa e do COI, pelo menos no que se refere ao esporte bretão, nunca foram convergentes. A presença do presidente de honra da Fifa na defesa da candidatura brasileira teve muito mais a ver com o seu bom trânsito internacional no mundo esportivo do que com uma legitimação das aspirações brasileiras pela entidade que ele representa. O Rio foi a cidade vencedora, entre outros aspectos, por suas belezas naturais, pelo ineditismo que a América do Sul representa, pela excelência do projeto apresentado e pelo carisma do presidente Lula.
Penso que para um país pleitear a promoção de um megaevento como os Jogos Olímpicos, este deveria ser possuidor de uma cultura esportiva que permita o acesso da sua população às diversas modalidades.
Sete anos nos separam da abertura dos Jogos. Fica a expectativa de que o País consiga avançar nas políticas públicas de inclusão da população nas práticas esportivas, rendimento e promoção da saúde. Assim como ocorreu com o Pan 2007, quando os governantes que pleitearam a realização do evento não foram os mesmos que o executaram, muitos dos atuais agentes não estarão mais ocupando cargos públicos. Assim, é preciso que elaborem orçamentos e contratos condizentes com a realidade do País, para que no futuro não tenhamos que nos envergonhar pela quebra de mais um recorde mundial da irresponsabilidade.
*Professora de sociologia do esporte da Faculdade de Educação Física da Unicamp e autora de Futebol e Sociedade (Liber Livro, 2006).
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Mais uma: Globo com nova afiliada no Ceará
Deu no Portal Imprensa: hoje a Rede Globo inaugurou a sua 122ª (tente dizer isso por extenso) emissora no país: a TV Verdes Mares Cariri, na região de Juazeiro do Norte, no Ceará. É a segunda afiliada da Globo no estado nordestino e, de acordo com o site do Departamento Comercial da Rede, deve cobrir 66 municípios, atingindo 1,7 milhão de pessoas.
Mais uma pra lista: são as tachinhas coloridas da Globo tomando o mapa do Brasil!
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