A TV Bahia ganhou um ponto pela sacada em uma matéria reproduzida no Bahia Meio Dia da última terça-feira (26). Na matéria (clique aqui e assista), o repórter Dalton Soares e equipe registram um caso de vazamento no bairro do Rio Vermelho que, segundo a população, segue sem solução há dois anos. Isso mesmo -- os órgãos públicos nunca param de nos supreender. Numa esquina, o escape da água resultou numa poça enorme que, dentre outros prejuízos, atrapalha a passagem, prejudica veículos e pedestres e o principal: DESPERDIÇA MUITA ÁGUA... De acordo com moradores, a Embasa, Empresa Baiana de Água e Saneamento, já foi contactada várias vezes, mas, como um típico centro de telemarketing, verificou o caso, fez o registro e não resolveu.
Até aí, a matéria seria mais uma de problemas de bairro em que o governo toma uma postura insatisfatória -- ou melhor, não toma postura nenhuma. Mas a "sacada" está quando o vazamento é diretamente relacionado ao fato de que, pela falta de chuvas no estado, a Embasa deve racionar a distribuição de água no estado. "O vazamento acontece justamente quando o superintendente comercial da Embasa alerta para o risco de racionamento de água." E, daí, uma sonora cuja contradição diante do problema se encaixa perfeitamente. A matéria tem mérito por fazer um ótimo gancho no fato -- coisa que muita matéria de redes nacionais não têm --, claro e direto.
Hoje, um dia depois da matéria, a economia de água pelo órgão já é uma realidade: a Embasa reduziu a oferta de água para a população em 400 litros por segundo (leia mais aqui), mas garante que não vai haver racionamento.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Coluna de janeiro/08
A coluna Metalíngua na Imprensa é postada na última sexta-feira de cada mês na Grande Imprensa. As edições da coluna de que originou a idéia do blog serão postadas aqui logo depois que forem colocadas lá. Quando estiverem recentes, apenas uma pílula do texto virá, com link para o GI -- que terá imagens, inclusive. Após expiração de prazo de publicação da coluna no site, ela será colocada integralmente no mesmo post.
Como a próxima coluna vem só daqui a dois dias, já vou adiantá-la integralmente aqui. Enjoy it!
DE FOGOS DE ARTIFÍCIO A IBOPE: QUEIMANDO CAPITAL
A virada e o final de um ano trazem alguns clichês na nossa rotina, dentre eles, os clichês jornalísticos, as matérias de gaveta que sempre aparecem em determinadas datas. No caso do Reveillón, nós, de todo o país, somos obrigados a engolir toda uma cobertura dos grandes veículos de comunicação — principalmente a TV — sobre a virada do Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, centro de produção e “capital da mídia”. “Ah, foram 24 toneladas de fogos, que queimaram em 16 minutos, dois bilhões de pessoas em Copacabana, bla bla...” Eu, baiana, apesar de toda a ladainha das matérias em rede nacional sobre a festa do Rio, fiquei foi na minha festa, na minha capital. Bonita que só, ela teve 15 minutos de um lindo espetáculo com a queima de 10 toneladas de fogos de artifício.
E as águas de março, ou melhor, graças à Igreja, janeiro, trazem o clichê do carnaval. Na tela da TV no meio deste povo, cinco regiões recebem a rajada de penas, peitos, bundas e purpurinas do carnaval de São Paulo e Rio de Janeiro. No meio da nossa novela, do nosso jornal, por todo o dia – vários inserts de samba-enredos de escolas variadas, com suas mulheres e seus porta-vozes. Quem é do Boi Caprichoso ou Garantido, do frevo, do maracatu, do axé, etc., tem que observar seu carnaval típico e local ter a cobertura televisiva reduzida pela emissora – afinal, são todas afiliadas. A exceção é Recife: apesar de também ouvir a ritmo do samba global, a cobertura do carnaval pernambucano é um xodozinho, já que, neste estado, funciona uma sede da Globo, não uma retransmissora.
Ter que engolir isso faz parte dos nogócios, somos menores e subordinados, reproduzimos o que a rede quer em um certo detrimento do local. Mas, convenhamos, as regras falam mais alto... Eu não sou fã de axé, nem simpatizo muito, mas acho que seria mais interessante ouvir comerciais com as músicas candidatas a hits do carnaval de Salvador do que enredos de escolas de samba para as quais não torço, com que não conexão histórica, cultural, social. E no meio da festa, entre o confete e a serpentina, perde-se capital. Os capitais social e humano, de pessoas de uma mesma comunidade vivenciando a experiência e opinando sobre este evento cultural que tanto tempo ocupa no nosso calendário e na nossa cabeça. É claro que o capital financeiro não se perde, afinal, porque você acha que a Globo faria isso há tantos anos?
Mas a Globo queima o capital dos pontos do Ibope, mesmo sem sair no prejuízo, por causa dos patrocinadores. A audiência que não teve dinheiro, tempo ou saco para comprar abadás ou camarotes tem que mudar de canal para ver seu carnaval. Pelo menos, apesar do mercado do axé colocar os preços cada vez mais no Oiapoque, os foliões estão com um imposto a menos na conta bancária para folgar o bolso e se apertar na avenida.
Como a próxima coluna vem só daqui a dois dias, já vou adiantá-la integralmente aqui. Enjoy it!
DE FOGOS DE ARTIFÍCIO A IBOPE: QUEIMANDO CAPITAL
A virada e o final de um ano trazem alguns clichês na nossa rotina, dentre eles, os clichês jornalísticos, as matérias de gaveta que sempre aparecem em determinadas datas. No caso do Reveillón, nós, de todo o país, somos obrigados a engolir toda uma cobertura dos grandes veículos de comunicação — principalmente a TV — sobre a virada do Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, centro de produção e “capital da mídia”. “Ah, foram 24 toneladas de fogos, que queimaram em 16 minutos, dois bilhões de pessoas em Copacabana, bla bla...” Eu, baiana, apesar de toda a ladainha das matérias em rede nacional sobre a festa do Rio, fiquei foi na minha festa, na minha capital. Bonita que só, ela teve 15 minutos de um lindo espetáculo com a queima de 10 toneladas de fogos de artifício.
E as águas de março, ou melhor, graças à Igreja, janeiro, trazem o clichê do carnaval. Na tela da TV no meio deste povo, cinco regiões recebem a rajada de penas, peitos, bundas e purpurinas do carnaval de São Paulo e Rio de Janeiro. No meio da nossa novela, do nosso jornal, por todo o dia – vários inserts de samba-enredos de escolas variadas, com suas mulheres e seus porta-vozes. Quem é do Boi Caprichoso ou Garantido, do frevo, do maracatu, do axé, etc., tem que observar seu carnaval típico e local ter a cobertura televisiva reduzida pela emissora – afinal, são todas afiliadas. A exceção é Recife: apesar de também ouvir a ritmo do samba global, a cobertura do carnaval pernambucano é um xodozinho, já que, neste estado, funciona uma sede da Globo, não uma retransmissora.
Ter que engolir isso faz parte dos nogócios, somos menores e subordinados, reproduzimos o que a rede quer em um certo detrimento do local. Mas, convenhamos, as regras falam mais alto... Eu não sou fã de axé, nem simpatizo muito, mas acho que seria mais interessante ouvir comerciais com as músicas candidatas a hits do carnaval de Salvador do que enredos de escolas de samba para as quais não torço, com que não conexão histórica, cultural, social. E no meio da festa, entre o confete e a serpentina, perde-se capital. Os capitais social e humano, de pessoas de uma mesma comunidade vivenciando a experiência e opinando sobre este evento cultural que tanto tempo ocupa no nosso calendário e na nossa cabeça. É claro que o capital financeiro não se perde, afinal, porque você acha que a Globo faria isso há tantos anos?
Mas a Globo queima o capital dos pontos do Ibope, mesmo sem sair no prejuízo, por causa dos patrocinadores. A audiência que não teve dinheiro, tempo ou saco para comprar abadás ou camarotes tem que mudar de canal para ver seu carnaval. Pelo menos, apesar do mercado do axé colocar os preços cada vez mais no Oiapoque, os foliões estão com um imposto a menos na conta bancária para folgar o bolso e se apertar na avenida.
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