Não sabia eu, mas a capital Rio de Janeiro é um terreno bem mais fértil. Também, o mercado da cidade tem o maior número de leitores, 20% da população segundo o IBGE. Sete jornais circulam diariamente nas bancas da cidade: Jornal do Brasil, O Globo, Extra, O Dia, O Povo, Expresso e Meia Hora. A maior variedade de publicações permite que sejam criados nichos de públicos, (Quality Paper, classes A/B; Populares, B/C e Compactos, C/D). Isto torna a análise muito mais interessante. Andando por uma rua do bairro do Flamengo, na Zona Sul, deparei-me com uma capa de jornal bem peculiar.


E para bom entendedor, poucas palavras bastam. Os signos lingüísticos das capas do Expresso e do Meia Hora são riquíssimos. Em texto e imagem, a tríade sangue, sexo e futebol. Tudo em uma linguagem que chegue em cheio no público-alvo: falando como ele fala. Gírias como “poliçada” e “caô”, num popularesco carioquês, além de expressões poucos usuais em estilos menos populares de jornalismo, como “sacode”, “coitada” e “foi em cana”.
Metáfora Seletiva
Quando o Correio* decidiu se comparar a outros jornais para explicar seu novo formato (berliner e com notícias curtas), adotado em agosto deste ano, citou grandes jornais da Europa. Decisão claramente estratégica, for sure. Esqueceu-se que exemplos bem menos notórios e daqui do país já tinham como política editorial notícias mais rápidas e resumidas e o uso constante de notas e muitas imagens. Apesar de estarem em tablóide, o Expresso e o Meia Hora têm a mesma regra. Em uma pagina, duas, três ou até mais notícias diferentes – não dá pra ser mais por causa da espantosa quantidade de anúncios, que sustentam a venda dos exemplares a 50 centavos cada. Boxes trazem tanto pequenos adendos às notícias principais quanto outros fatos da mesma editoria. Os textos não passam de quatro parágrafos e quando o fazem, é porque todos estão muito curtos.
Marinho é o Rei
Em terra cariocas, não tem jeito: as publicações Globo dominam o mercado. No segmento Quality Paper (A/B), o jornal O Globo dá uma surra o Jornal do Brasil por um placar humilhante de 1,7 milhão de leitores versus 304 mil. No grupo dos Populares, o Extra (3,2 mi) bate o O Dia (1,9 mi). Não consegui números que comparem o Expresso ao Meia Hora; para quem não percebeu pela capa, o global é o primeiro. São duas citações de produtos da Rede Globo; a Globeleza e o Domingão do Faustão. Na página 2, três quadros dão um ar de versatilidade ao jornal, chamando o leitor para o conteúdo de outras mídias: “Deu na Rádio Globo”, “Deu no Jornal Nacional” e “Deu na Internet” -- que certamente poderia se chamar “deu no G1” e não faria diferença.